sexta-feira, 26 de abril de 2013

Como as grandes religiões encaram o momento da morte?



por Sheyla Miranda

ISLAMISMO
Os muçulmanos creem que, como o nascimento, a morte está nas mãos de Deus. Vivendo conforme os ensinamentos divinos, não há por que temer a morte. Assim, seguem tranquilos para a reencarnação. Os últimos momentos são de recolhimento e de reconhecimento da supremacia e da bondade do todo-poderoso Alá. Islâmicos que morrem em jihad (luta pela fé) não passam por isso, pois iriam direto para o paraíso.
"Foi Alá quem te criou, quem te sustentou, e é ele quem te fará morrer", Suräh 30:40
PREPARO PURO
Familiares e amigos do mesmo sexo do falecido despem e lavam o cadáver de três a cinco vezes, começando pelo lado direito, para devolver pureza à alma. Os orifícios são tapados com algodão e o corpo é coberto por um sudário branco e perfumado com cânfora.
PALAVRA FINAL
Parentes e amigos recitam o shahãdah, oração contra o demônio e de afi rmação sobre a não existência de outro deus além de Alá. Essas devem ser as últimas palavras ouvidas pelo moribundo para que se conscientize da importância de encontrar Alá na eternidade.
CRISTIANISMO
Para a maioria dos cristãos, na morte, o espírito vai para o céu ou para o inferno - para os católicos, há o purgatório e, para outras denominações, a morte é um sono até o dia do juízo. O destino varia de acordo com o que o morto fez em vida. Por isso, quando um cristão morre, familiares e amigos consolam uns aos outros pela perda, além de orar para que o falecido seja perdoado de seus pecados e alcance o paraíso. Cristãos protestantes recém-falecidos são vestidos com roupas habituais e costuma-se retirar qualquer adorno de seu corpo.
ÚLTIMA BÊNÇÃO
Se um católico está para morrer, o padre faz a extrema-unção, passando o óleo dos enfermos - azeite de oliva benzido em missa - em seis partes do corpo: olhos, narinas, boca, ouvidos, mãos e pés. Enquanto isso, faz orações e pede a Deus que perdoe a pessoa pelos males cometidos.
LIVRE ENFIM
Alguns cristãos também abrem as janelas logo depois de uma morte, para que corra vento no ambiente e a alma do falecido se sinta livre. Pela tradição católica, o corpo deve ser bem lavado, ungido com perfume e especiarias e vestido com boas roupas. Todo cuidado serve para preparar o morto para a vida eterna.
BUDISMO
Segundo uma parábola, uma mulher procura Buda para reviver o filho. Buda pede a ela grãos de mostarda de uma casa em que nunca tenha morrido alguém. A mãe não encontra e entende que teria de conviver com a morte.
CHEIRO DE VIDA
Velas são acesas no oratório doméstico ou de onde ocorreu o óbito - o corpo fica próximo a ele. O rosto é coberto com um pano branco e acendem-se incensos a sua volta. Um monge budista é chamado para ler textos sagrados e confortar a família.
JUDAÍSMO
A morte não é uma tragédia, mas algo natural. Os judeus se veem como "hóspedes temporários" de passagem pela Terra. Ou seja, a alma sobrevive mesmo que o corpo tenha falecido. Se foram bons e dignos em vida, a alma será recompensada no além. E é para que siga iluminada que amigos e familiares cumprem uma série de rituais.
"Pois do pó viestes, e ao pó retornarás", Bereshit 3:19
NADA DE ENFEITE
As janelas do local do óbito de um judeu são abertas, e acessórios como joias, relógios e até perucas são retirados do morto, para que ele não encontre o criador portando objetos mundanos.
SIMPLES ASSIM
O caixão deve ser arranjado rápido, seguindo um padrão: ser de madeira, forrado com um pano preto e adequado ao tamanho do corpo, estampando a estrela de Davi. Os caixões dos judeus devem ser parecidos para lembrar que a morte iguala todos.
HINDUÍSMO
Acreditam na reencarnação, ou seja, que a alma volta várias vezes à vida até se libertar. A vida na Terra é parte de um ciclo de nascimento, morte e renascimento. Logo que alguém falece, iniciam-se rituais para desprender a alma do corpo - geralmente cremado - sem traumas e para que ela encontre nova casa - um corpo humano ou de animal, de acordo com o comportamento na vida anterior
LIMPEZA FESTIVA
O corpo do falecido é lavado, untado com óleo e pasta de sândalo e vestido com boas roupas, como se fosse a uma festa; as mulheres são penteadas e os homens, barbeados. Uma mortalha de tecido recobre o corpo dos pés à cabeça, mas o topo do crânio fica descoberto
AO AR LIVRE
Quando um hindu está prestes a morrer, o corpo é deitado no chão, a céu aberto, com a cabeça voltada para o sul. A prática, cultivada em regiões da Índia e em outros países, inicia o desprendimento entre corpo e alma
CONSULTORIA Cecilia Ben David, coordenadora pedagógica do Centro da Cultura Judaica; Swami Krishna Priya Ananda, mestre espiritual da Sociedade Internacional Gita do Brasil; Cido Pereira, padre da Arquidiocese de São Paulo; Shake Juma, do Centro de Estudos e Divulgação do Islã; Padman Samten, lama do Centro de Estudos Budistas Bodisatva

O MOMENTO DA MORTE





Drauzio Varella

A morte acontece num instante arbitrário que depende da cultura e da tecnologia disponível. Definir um momento exato para a ocorrência da morte não é conceito indiscutível, mas preocupação característica da cultura ocidental.
Os funerais gregos e egípcios, por exemplo, sugerem que a morte seria uma fase de transição, jamais um instante definido como a imaginamos nós. Na civilização cristã, a idéia de transição foi substituída pela imagem do último suspiro de Jesus Cristo martirizado na cruz, símbolo máximo da passagem deste mundo para outro melhor.
Por milhões de anos, foi fácil para os médicos diagnosticar morte: bastava verificar se o doente respirava. Mortos estariam os ineptos a essa função fisiológica essencial, a única da qual o corpo humano não pode prescindir por mais do que uns poucos minutos.
De fato, privado de oxigênio por quatro ou cinco minutos, nosso cérebro costuma sofrer danos irreversíveis. Mas outros órgãos são bem mais resistentes à anóxia. O coração é um deles – capaz de bater por muitos minutos depois que a última molécula de oxigênio fugiu dos pulmões e até fora do corpo quando retirado cirurgicamente.
Estabelecer critérios para caracterizar a morte se tornou necessário a partir do aparecimento dos primeiros aparelhos de ventilação mecânica, que permitiram manter vivas pessoas incapazes de respirar por conta própria. Essa necessidade se tornou mais premente com o advento dos transplantes de órgãos na década de 1960.
Discuto essas ideias menos por pretensões filosóficas do que motivado pela leitura de um artigo de E. Wijdicks, neurologista da Mayo Clinic, “O Diagnóstico de Morte Cerebral”. O autor resume a evolução dos critérios adotados para o diagnóstico de morte cerebral a partir de 1959, quando Mollaret e Goulon introduziram o termo “coma dépassé” — o coma irreversível.
Os dois médicos franceses caracterizaram essa condição com base no estudo de 23 pacientes em coma que haviam perdido a consciência, todos os reflexos do tronco cerebral e a capacidade de respirar sem aparelhos e que apresentavam eletroencefalogramas em linha reta, característicos da ausência de ondas cerebrais.
Reavaliações dos critérios de morte cerebral foram mais tarde realizadas por um comitê da Universidade Harvard (1968) e por uma conferência do Medical Royal Colleges (1976), da Inglaterra. Ficou, então, estabelecido o consenso de que a morte deveria ser definida como “a perda completa e irreversível das funções do tronco cerebral”. A definição considerava o tronco como o epicentro das funções cerebrais humanas, porque sem ele o organismo perde a capacidade cognitiva e a possibilidade de fazer movimentos voluntários ou reagir a estímulos do ambiente. Sem atividade no tronco cerebral, a vida humana podia ser considerada extinta.
Mesmo na ausência de um tronco cerebral em funcionamento, o coração continua a repetir suas sístoles e diástoles, garantindo acesso de oxigênio ao resto do organismo para as atividades inerentes à vida vegetativa.
Em 1995, a Academia Americana de Neurologia conduziu uma revisão a respeito das dificuldades para diagnosticar a morte e adotou os seguintes princípios: “A declaração de morte cerebral requer não apenas uma série de testes neurológicos cuidadosos, mas também o esclarecimento das causas do coma, a certeza de sua irreversibilidade, a resolução de qualquer dúvida em relação aos sinais neurológicos clínicos, o reconhecimento de possíveis fatores conflitantes, a interpretação dos achados de neuroimagem e a realização dos exames laboratoriais necessários”.
Da diversidade de resistência à falta de oxigênio que os diferentes tecidos do organismo apresentam, resulta que a morte é fenômeno de alta complexidade. Não está restrita aos limites do último suspiro, como o cinema e a arte dramática nos fizeram crer. Não apenas o coração continua a bater dentro do peito, mas as unhas e os cabelos crescem, as células do revestimento interno do aparelho digestivo e da pele ainda se multiplicam e muitos hormônios, enzimas e proteínas são produzidos por minutos e até horas depois do instante que se convencionou chamar de morte.
Essa definição de morte, baseada na ausência de atividade do tronco cerebral, é prática, porém arbitrária. Pode até ser interpretada de forma contraditória. Por exemplo, aceitamos que um garoto de 18 anos atropelado seja doador de órgãos ao demonstrarmos que seu tronco cerebral está inativo, mas ficamos chocados quando uma gravidez é interrompida voluntariamente na oitava semana, fase em que não existe a menor chance de atividade cerebral coordenada no embrião.
Com a descoberta dos aparelhos de ventilação pulmonar, o conceito de morte evoluiu do último suspiro para uma hierarquia de valores na qual certas atividades do sistema nervoso central valem mais do que todas as outras do organismo. São atividades essenciais para caracterizar a condição humana. Na ausência delas, admitimos extinta a vida, mesmo que os outros órgãos continuem saudáveis.
Ao considerar a morte como passagem, os gregos e os egípcios talvez não fossem tão ingênuos.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

HISTÓRIA DO IML DO DISTRITO FEDERAL



Em 1955, com a aprovação do Regulamento Geral do Departamento Federal de Segu­rança Pública (DFSP), a Divisão de PoliciaTécnica — DPT foi organizada da seguinte forma: 

• Delegacia Especial de Polícia;
• Instituto de Criminalística;
• Instituto Médico-Legal;
• Instituto Félix Pacheco;
• Serviço Fotográfico;
• Escola de Policia;
• Seção de Administração.

O Instituto de Medicina Legal - IML, funcionava no Rio de Janeiro com o nome de Instituto Médico-Legal. A ele competia a prática de perícias médico-judiciárias do DFSP e da Justiça, bem como a realização de investigações científi­cas relativas à medicina legal. Sua estrutura compreendia:

• Seção de Clínica Médico-Legal;
• Seção de Necropsias;
• Seção de Perícias de Laboratório;
• Seção de Administração.

À Seção de Clínica Médico-Legal cabia a realização dos exames que se referissem às especialidades dos médicos legistas (clínicos,estomato-oftalmo-otorrinolaringologistas e neuropsiquiatras), como também às atividades de perícia médico-legal em locais suspeitos de crime e a orientação para as provas fotográficas necessárias às Seções Técnicas.

À Seção de Necropsias cabia a realização das perícias de necropsia; dos exames externos de cadáveres; das colheitas, em todas as necropsias, de material para os exames na Seção de Perícias Laboratoriais e da administração das salas de necropsias.

Seção de Perícias de Laboratório cabia a realização das perícias que se referissem à histopatologia, bacteriologia, sorologia, hematologia, bioquímica e pesquisas de manchas;

Perícias toxicológicas;

Perícias radiológicas (até mesmo nos cadáveres); preparação e conservação de peças anatômicas em natureza e em cera ou desenhos para o “Museu de Medicina Legal”.

A Seção de Administração cuidava de tudo o que se referisse a pessoal,material, orçamento e relações administrativas. Em janeiro de 1956, o IML sofreu algumas alterações em sua estrutura, passando a ter a seguinte organização:

• Seção de Clínica Médico-Legal;
• Seção de Necropsias;
• Seção de Anatomia Patológica e Histologia;
• Seção de Radiologia;
• Seção de Toxicologia;
• Seção de Administração;
• Zeladoria.

2 - A MEDICINA LEGAL EM BRASÍLIA:

Em 1957, foram efetuados em Brasília os primeiros registros de atividades médico-legais, onde um laudo de necropsia estava reduzido a meras informações de idade, causa da morte, data e local do óbito, como se vê abaixo:

Registro 1.Vítima: Benedito Xavier da Silva — idade 45 anos, data do óbito: 20 de abril de 1957. Local: Acampamento do Guará. Causa Mortis: colapso cardíaco. Sepultado em: Formosa, GO.
Os procedimentos legais quanto ao óbito eram efetuados em Planaltina ou em Luziânia, onde os cadáveres eram sepultados.
Até 1957, os mortos encontrados além do córrego Vicente Pires (Núcleo Bandeirante) eram levados para Luziânia (GO) e os do lado de cá (rumo ao Plano Piloto) eram levados para Planaltina uma vez que ainda não havia polícia judiciária no que seria o DF.
O IML começou a funcionar em Brasília em nível informal e muito precariamente. Em meados de 1957, findavam-se as obras do “Hospital Craveiro Lopes”, no Núcleo Bandeirante.
Segundo o relato abaixo, naquela época ocorreu o primeiro caso de Traumatologia Forense, quando um motorista, ao ver o caminhão desgovernar-se, saltou e teve a perna esmagada, e, logo depois, amputada naquele hospital (que nem mesmo havia sido inaugurado) “por uma equipe médica improvisada, mas de alta qualidade técnica”.
O primeiro caso que chamo de Traumatologia Forense foi o de um português.
Ele despencou de uma ladeira que tinha na cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante.
(...). Ali, o caminhão sem freios tombou. Ao saltar, uma das rodas passou sobre a sua perna. (....) A perna dele estava tão ruim que nem sentia mais pulso nos dedos. (...). Não havia sido inaugurado o hospital e nem havia condições cirúrgicas. Se mandasse para Goiânia, era longe e morreria (...) Não havia anestesista. Ensinei um pediatra noções de anestesia e expliquei como deveria ir fazendo. Observando as pupilas, acabei amputando a perna do rapaz, o que me causou uma grande insatisfação. Foi uma coisa de campanha. Era como se estivéssemos numa guerra civil. Esse eu considero o primeiro caso de medicina legaL Não havia IML como tal. Eu fiz o papel de médico legista. Nessa época o médico legista tinha que ser nomeado por um juiz ou um delegado. Eu estava agindo como cirurgião, salvando uma vida, mas praticamente qualquer coisa que eu fizesse era um laudo médico-legal, e tinha valor (...) Ao lado do Hospital, que era de madeira, foi construída uma sala também de madeira que constituiu-se, de fato, o primeiro IML do Distrito Federal.
Os laudos eram solicitados verbalmente pela Polícia, na época, denominada GEB. (...) Começaram a aparecer aventureiros se passando por médico. Um destes que se dizia endocrinologista chegou a tratar do Juscelino (Presidente JK).
Depois descobriu-se que ele era laboratorista (...) Houve casos de se chamar um clínico que não tinha conhecimento de medicina legal e colocava para fazer uma necropsia de baleado, e fazia uma salada entre orifícios de entrada e saída, confundindo o número de projetis.
Em 18 de junho de 1959, o IML foi criado oficialmente em Brasília. Era subordinado à Divisão de Polícia Técnica do Departamento Federal de Segurança Pública — DFSP.
Já em abril de 1960, o laudo de necropsia obteve discreto aperfeiçoamento, incorporando dados de identificação, como: nome dos pais, assinatura do médico e local de nascimento.
O Dr. Ubiratan Ouvinha Peres foi o primeiro Diretor do IML. As condições de trabalho eram tão precárias (inexistência de auxiliares; falta de água, sabão, e energia elétrica), que o próprio Diretor se recusou a fazer uma necropsia naquelas condições. Advertido pelo Delegado de Plantão, demitiu-se do cargo. Por falta de uma legislação específica, o Legista era designado a título precário, por exemplo: Designo, a título precário, o Dr. Solon de Mello e Silva, Chefe do Gabinete Médico Legal, em substituição ao Dr Alberto P. Cardoso, a partir desta data, a fim de prestar serviços a este Departamento como médico legista, realizando perícias médicas, exames cadavéricos e outros serviços, mediante o pagamento da importância de Cr$ 15.000,00 (...). Designo, a título precário, o Perito do Gabinete Médico-Legal, Dr. Célio Menicucci, mediante o pagamento mensal da importância de Cr$ 10.000,00.(...) Os primeiros legistas nomeados foram Armando José de Carvalho, Antônio Bouex, Ubiratan Ouvinha Peres, lsaac Barreto Ribeiro, Solon de Mello e Silva, Hélcio Luiz Miziara e Manuel Cregor.(10) Em 1960, ocorreu um grave soterramento na “Construtora Pederneiras, com sete mortos e, por falta de mesa de necropsia, foram necropsiados pelo Dr. Isaac Barreto Ribeiro ali mesmo no chão do IML durante a madrugada”. Naquela época ainda não existiam modelos próprios de laudos, os quais eram transcritos em livro próprio, e, depois, eram datilografados. Abaixo, uma transcrição do termo de abertura do Livro de Registro de Óbitos:

IAPI — O presente livro, que contém duzentas folhas, tipograficamente numeradas.., e rubricadas.., servirá para o registro de óbitos ocorridos nesta capital e constatados pelo Gabinete Médico-Legal do Departamento Federal de Segurança Pública. Arquelau Augusto Gonzaga, Diretor do Sv. De PM/DFSP.
Em 1961, já havia modelos de laudos mais modernos, com as seguintes características: modelo próprio (impresso) contendo os quesitos a serem respondidos e tendo ao cabeçalho a nomenclatura Ministério da Justiça e Negócios Interiores e Departamento Federal de Segurança Pública; os legistas eram nomeados pelo Delegado, que também assinava o laudo. Em novembro de 1961, o Chefe de Polícia extinguiu a Divisão de Polícia Técnica e criou a Divisão de Polícia Científica, integrando no DFSP a Superintendência da Polícia Metropolitana, composta dos seguintes Órgãos: Superintendência, Setor Urbano, Setor Rural, Divisão de Polícia Científica, que abrangia o Instituto de Criminalística - IC, o Instituto de Identificação — II, e o Instituto Médico-Legal — IML.
Em 13 de março de 1962, foi extinta a Divisão de Polícia Científica e criada a Superintendência de Polícia Técnico-Científica.
Em 18 de abril de 1962, aconteceu a inauguração da nova sede do IML, instalada no Setor Policial Sul, com uma sala de necropsia, uma câmara frigorífica com 6 gavetões, recepção, sala de repouso do médico de plantão e sala do Diretor. Era então Superintendente da Polícia Técnica e Científica o Dr. Antônio Carlos Villanova. O Chefe de Polícia do DFSP era o Tenente-Coronel Carlos Cairoli. Naquela ocasião, Villanova fez o seguinte discurso:
“...Na missão que recebemos, o trabalho a executar, é ainda dos mais árduos, pois estamos ainda apenas no começo, como Brasília, que ainda não completou seus dois anos de idade e, para assegurar à Capital da República a primazia nacional e mesmo panamericana no terreno da polícia técnica, não basta o formidável equipamento de que estaremos dotados até o fim do corrente ano.
A partir de 1963, os laudos de exame começaram a apresentar um modelo próximo do atual: no cabeçalho consta a nomenclatura Instituto Médico-Legal do Departamento Federal de Segurança Pública do Ministério da Justiça e Negócios Interiores; os Legistas passam a ser nomeados pelo Diretor do IML; exige-se assinatura de dois Legistas; desaparece a assinatura do Delegado.
Em setembro de 1963, já constava solicitação de exames de Verificação de Idade e de Conjunção Carnal. Em novembro de 1964, o DFSP passou por uma reorganização, e foi criada a Divisão de Polícia Técnica, subordinada à Polícia do Distrito Federal — PDF.
Em junho de 1965, foi aprovado o Regulamento Geral do Departamento Federal de Segurança Pública. A Divisão de Polícia Técnica ficou composta de:
• Secretaria;
• Instituto de Medicina Legal;
•Instituto de Criminalística;
• Instituto de Identificação;
• Serviço Fotográfico;
• Setor Escolar.

O IML realizava perícias de natureza médico-legal requisitadas pelas autoridades policiais, judiciárias, administrativas ou órgãos do Ministério Público; e ainda desenvolvia pesquisas científicas relacionadas com a medicina legal.
Era composto de:
Perícia no Vivo;
Perícia no Morto;
Perícia de Laboratório;
e Seção Administrativa.

A Seção de Perícia no Vivo, chefiada por um Médico-Legista, cabia realizar perícias em lesões corporais, exames complementares, de conjunção carnal, de estupro, de atentado ao pudor, de verificação de idade, de aborto e puerpério, de embriaguez, de sanidade física e mental e de infortunística do trabalho. Além disso, realizava também os exames de aptidão física para habilitação de motoristas profissionais ou amadores.

A Seção de Perícia no Morto tinha a atribuição de estabelecer a causa determinante do óbito, em seu duplo aspecto: clínico e jurídico. Podia também realizar embalsamamento. A Perícia de Laboratório compreendia: Seção de Toxicologia, Setor de Anatomia Patológica e Microscópica, Seção de Raios X e Setor de Fotografias.

Em março de 1967, foi criada a Secretaria de Segurança Pública do DF, em cuja estrutura foi inserido o Departamento de Polícia Técnica.
Em agosto desse mesmo ano, foi estabelecida a estrutura e competência básica dos órgãos que lhe eram subordinados, compreendendo:
• Divisão de Criminalística;
• Divisão de Identificação;
• Instituto de Medicina-Legal;
• Divisão Escolar.

Ainda em 1967, foi realizado o primeiro concurso público para Médico-Legista, com 10 vagas, sendo que 8 dos aprovados assumiram imediatamente e 2, um ano depois. Tal concurso, um marco na história da medicina legal, “por ser o primeiro; por ampliar o quadro e pela qualidade profissional dos novos legistas”.

Os 10 candidatos aprovados no 1º concurso público para Médico-Legista foram:

Edmundo Souza, Hermes Rodrigues de Alcântara,
Jofran Frejat, Lúcio Afonso Campello, Márcio Baun di Domenico, Wilson Campos de Miranda, José Maria Rodrigues de Moraes, Euler Costa Vidigal, Ozerides Pedro Graziani e José Felipe dos Santos.

Em 30 de setembro de 1968, o Prefeito do Distrito Federal, Wadjô da Costa Gomide, aprovou o Regimento da Secretaria de Segurança Pública, O Departamento de Polícia Técnica foi constituído de Seção de Expediente e Arquivo, Divisão de Criminalística, Divisão de Identificação, Instituto de Medicina Legal, e Central de Operações. O Instituto de Medicina Legal ficou assim organizado:
• Perícias no Vivo;
• Perícias no Morto;
• Perícias de Laboratório.

O IML “sempre primou por ser um órgão independente. Seus laudos eram confeccionados sem parcialidade e sem interferência de terceiros”.
“Em 1970 a época era dura. Período do Governo Médici. Era uma época em que todo mundo tinha medo. De vez em quando chegavam lá problemas de tudo quanto é ordem: presos políticos, elementos torturados com ponta de cigarro. E tudo isso era narrado no laudo. Era preciso ter muita coragem para tomar tais decisões...”
Em outubro de 1972, durante o Governo de Hélio Prates da Silveira, foi alterado o Regimento da Secretaria de Segurança Pública. O Departamento de Polícia Técnica passou a ser denominado Coordenação de Polícia Técnica, constituída pelo Instituto de Criminalística, Instituto de Identificação e Instituto de Medicina Legal, este com as seguintes seções: Expediente e Arquivo, Perícias no Vivo, Perícias no Morto e Laboratório. Foi incluída como função da Seção de Perícia no Vivo a verificação de paternidade.
Em 1975, no Governo Elmo Serejo, foi aprovado novo Regimento da Secretaria de Segurança Pública. O IML passou a ter a seguinte estrutura:

• Divisão de Perícias Médico-Legais:
Seção de Perícias no Vivo;
Seção de Perícias no Morto;
Seção de Laboratório.

• Divisão de Administração:
Seção de Material e Transporte;
Seção de Conservação;
Seção de Comunicações.

Ao Instituto de Medicina Legal, sob novo Regimento, cabia dirigir, coordenar e controlar a execução das competências das Divisões de Perícias Médico-Legais e de Administração; elaborar e propor normas sobre perícias médico-legais, exames complementares e programação anual de trabalho dos órgãos subordinados.
Em 16 de dezembro de 1978, o Congresso Nacional homenageou o Professor Leonídio Ribeiro, ao dar o seu nome ao Instituto de Medicina Legal, que passou a denominar-se Instituto de Medicina Legal Leonídio Ribeiro — IMLLR. Tratava-se do emérito Professor do IML do Rio de Janeiro, que veio duas vezes daquele Estado lecionar para os médicos do IML de Brasília.
Em julho de 1984, foram criadas na Divisão de Perícias Médico-Legais a Seção de Toxicologia e Análises Clínicas e a Seção de Histologia.
À Seção de Toxicologia e Análises Clínicas coube a realização de exames periciais de tóxicos em geral, em líquidos orgânicos, em vísceras (para determinação de envenenamento e pesquisas de drogas de ação psicotrópica), em alimentos e outras substâncias, visando determinar todas as formas de intoxicações, tais como: agudas, crônicas, acidentais, alimentares, iatrogênicas, profissionais, ambientais, endêmicas, sociais, genéticas, suicidas, ácidas, etc. Efetuava ainda exames toxicológicos em fluidos orgânicos (para determinação e isolamento de drogas de ação psicotrópica); exames imunológicos, bacterioscópicos, bacteriológicos, hematológicos, bioquímicos; além de realizar a identificação de pelos humanos e pesquisa de espermatozóides em esfregaços vaginais e em peças de vestuários.
À Seção de Histologia coube efetuar exames em fragmentos de órgãos retirados de cadáveres durante a necropsia; examinar lâminas ao microscópio (elaborando-se o laudo correspondente); comparar os achados histológicos com os achados microscópicos (propiciando a elaboração do laudo final); fazer microfotografias quando necessário; orientar os legistas nos casos de morte natural e preparar as peles para macrofotografia; fazer estatísticas dos achados anatomopatológicos, divulgando-os aos Órgãos competentes.
Em julho de 1993, foi alterado o nome da carreira de Médico-Legista para Perito Médico-Legista.
Em 1995, o Instituto de Medicina Legal funcionava com a seguinte estrutura:

• Direção;
• Divisão de Perícias Médicas:
• Seção de Perícia no Vivo:
• Perícias internas;
• Perícias externas;
• Seção de Perícias no morto:
• Laboratório de Antropologia Forense;
• Raios-X;
• Seção de Psicopatologia Legal;
• Sistema Integrado de Verificação de Óbito;
• Laboratório;
• Núcleo de Estudos e Pesquisa;
• Serviço de Apoio
• Administrativo:
• Protocolo;
• Datilografia de Laudos;
• Arquivo;
• Transporte.

A partir de 2001, o IML iniciou o processo de informatização, sendo a digitação feita pela Seção de Digitação de Laudos. Em 2002, a informatização aprimorou-se, quando os próprios peritos médico-legistas passaram a digitar seus laudos, os quais, através do sistema Millenium, que integra a Intranet da Polícia Civil do Distrito Federal, passaram a ficar disponíveis on-line para as delegacias após sua homologação.

3- DIRETORES DO IML

• Ubiratan Ouvinha Peres (*)
• Armando José de Carvalho (12/10/61 a 13/12/61)
• José João Comini (14/12/61 a 12/11/62)
• João Ferreira da Silva (13/11/62 a 23/12/63)
• José João Comini (24/12/63 a 4/11/66)
• José Felipe dos Santos (5/11/66 a 21/5/68)
• Lúcio Afonso Campelo da Silva (22/5/68 a 27/8/68)
• Edmundo Souza (28/7/68 a 2/3/70)
• Jofran Frejat (9/3/70 a Dez/1970)
• Donato Rispoli Borges (Dez/1970 a Jan/1971)
• Sávio Pereira Lima (21/1/71 a 24/9/71)
• Jofran Frejat (14/11/73 a 29/3/79)
• José Maria Rodrigues de Moraes (24/4/79 a 16/4/85)
• Milton Rodrigues da Paixão (17/4/85 a 31/1/89)
• Márcio Baum Di Domenico (1/2/89 a 7/12/90)
• Abelardo de Oliveira Brito (17/1/91 a 7/3/94)
• Paulo de Tarso Mendes Diniz ( 8/3/94 a 13/3/95)
• José Eduardo da Silva Reis (14/3/95 a 10/2/99)
• Ricardo Cortes de Oliveira (11/2/99 a 11/5/99)
• Simone Correa Rosa ( 02/06/99 a 27/09/99)
• Paulo de Tarso Mendes Diniz ( 28/9/99 a 29/8/2001)
• Cristiane Alves Costa (30/8/2001 a 25/5/2004)
• José Flávio de Souza Bezerra (26/05/2004 a 03/02/2009)
• Malthus Fonseca dos Santos (atual)

(*) Não encontrado registro oficial, apenas citação no depoimento do Dr. Isaac Barreto Ribeiro.

Citações bibliográficas :

(1) Decreto n º 37.008, 8/3/1955. DOU, 9/3/55.
(2) O Museu de Medicina Legal constituía-se de um acervo de peças anatômicas de interesse científico.
(3) Decreto n º 38.710, 28/1/56 — DOU.
(4) Livro de Registro do IML, Arquivo público da Novacap.
(5) 0 Livro de Registro de óbitos ( 2/4/57 a 21/4/59 ). consta que no mês de fevereiro de 1958 ocorreram 11 óbitos, todos sepultados em Luziânia (GO).
(6) Aidano José Faria (depoimento: novembro/1995).
(7) Hospital Craveiro Lopes recebeu este nome por homenagem de Juscelino Kubitschek a um embaixador português que visitava o canteiro de obras de Brasília.
(8) A equipe médica era composta por: Dr. Isaac Barreto Ribeiro (cirurgião); Dr. Edson Porto (anestesista); e Dr. Cláudio Costa (laboratorista).
(9) Dr. lsaac Barreto Ribeiro (Depoimento, 19/11/94). (10) Isaac Barreto Ribeiro (novembro/1994). Decreto nº 46.237. 18/6/59. Livro de Laudos do IML. Boletim Interno n 0 21, 11/8/1960 - PolIcia Metropolitana.
(11) Portaria n º 224, 21/10/61 — DFSP. Livro do IML, Arquivo Público da NOVACAP.
(12) Portaria n º 28, 1º/11/61 — DFSP. Boletim Interno nº 225, de 1º/11/1961 — DFSP. O Dr. José João Cominj é nomeado Diretor do IML em 3/12/61. Isaac Barreto Ribeiro (Depoimento, novembro/1994).
(13) Portaria nº 18, 12/3/62 — DFSP.
(14) Portaria nº 224, 21/10/19661 — DFSP. Boletim Interno nº 76, 18/4/62 — DPSP.
(15) Lei n º 4.483. 16/11/64 — DFSP.
(16) Decreto n º 56.510, 28/6/1965 — DOU.
(17) Decreto n º 56.511, 28/6/65 — DOU.
(18) Decreto n º 315, 13/3/67 — DOU.
(19) Decreto n º 645, 21/8/67 — DODF.
(20) Decreto n º 825, 30/9/1968 — DODF
(21) Jofran Frejat, ex-Diretor do IML (Depoimento, 21/11/94).
(22) Decreto n º 2.868, 25/3/75 — DODF. Aimé Alcebíades Lamaison.
(23) Lei n º 6.506, 16/12/78 — DOU. Lúcio Afonso Campelo da Silva (Depoimento, 21/11/94).
(24) Decreto 8.082. 17/7/84 — (DODF. Foram criadas também no IML a Divisão de Administração e as Seções de Material e Transporte, Comunicações, Conservação e Laboratório).
(25) Lei nº 8.674, 6/7/93.

BIBLIOGRAFIA :

HISTÓRIA DA POLÍCIA CIVIL DE BRASÍLIA

- ASPECTOS ESTRUTURAIS (1957 a 1995 ) ; Academia de Polícia Civil do DF,

Brasília - DF, 1998.

FONTE PESQUISA:

http://www.pcdf.df.gov.br/pgUnidadesPoliciais/pgInstitutoMedicinaLegal
Prece do Diretor Funerário
“Prece do Diretor Funerário"

Senhor
Deste a mim a missão de atender ao meu semelhante no momento mais difícil e indesejado de uma existência. Tendo consciência de minha fragilidade, rogo ao vosso infinito amor para que os meus passos sejam iluminados e que somente caminhos seguros integrem a minha jornada, aprendendo sempre a valorizar a força da união e a respeitar os meus companheiros de classe, sendo ético, altivo, honesto e sincero.

Senhor
No desempenho de minha tarefa, ajudai-me a encontrar, no mento certo, a palavra adequada para arrefecer a dor da perda, auxiliando os entes amados daquele que partiu a entender desígnios e as inexoráveis leis que regem e equilibram o universo.

Senhor
Vivenciando experiências tão difíceis, perdas irreparáveis, olhando a face esquálida e abatida de uma mãe, de um pai ou de um filho, cuja perda entorpece a vontade de viver, suplico, dai-me forças para não permitir que minh’alma se petrifique, que os meus sentimentos se congelem e que a minha fé venha a se perder nos turbilhões que envolvem o meu dia a dia.

Senhor
Permiti que em todos os momentos, o carinho, a firmeza e a qualidade estejam presentes em tudo o que realizar, respeitando e fazendo respeitar a presença e a memória dos que já não vivem mais a realidade terrena, realizando o meu trabalho sempre de forma a fazer de cada família atendida um reduto de amigos, somatória sublime que contempla e compensa o sacrifício das noites em claro, das viagens infindas e da constante disponibilidade.

Senhor
Abençoai-me, hoje e sobretudo na velhice, quando a solidão se fizer minha única companheira, sendo ela a janela do tempo para vislumbrar o passado, a fim de que possa sentir nas recordações, o estímulo necessário para chegar ao derradeiro momento, onde deverei apresentar-me nos Tribunais da Eternidade, levando comigo única e tão somente as realizações baseados no amor, alavanca do progresso, antídoto do remorso e do arrependimento.

Senhor
Contemplai-me com a têmpera em que haja a alquimia do vigor de um gladiador e da coragem de um herói, a delicadeza e o cuidado de um diplomata, a  onisciência e a intuição de um sábio, assim como a calma, a paciência e a tolerância de um santo, pois sei serem essas as qualidades essenciais de um justo, perfeito e verdadeiro Diretor Funerário. ASSIM SEJA!

Regras para Implantação de Tanatório


É preciso pesquisa, um certo grau de entendimento e ajuda profissional para instalar um tanatório ou laboratório para preparação de corpos. A experiência alheia não ajuda, porque como os municípios são autônomos para legislar sobre o assunto e as regras podem ter diferenças (as vezes, bem grandes).

Na maioria das vezes as próprias autoridades responsáveis não sabem muito bem como orientar quem se propõe a fazer tudo dentro da Lei. Esta redação ligou para Secretárias de Vigilância Sanitária dos Estados do Paraná, São Paulo e Ceará e também para a ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - e em todos os locais o atendimento foi o mesmo. Depois de muito insistir, num jogo de passa-passa ligação, alguém explicava com determinação que os municípios é que regem a questão. Neles há órgãos competentes que são responsáveis pelas autorizações de funcionamento e só não podem ferir a legislação Estadual ou Federal.

Assim, como o Brasil tem cerca 5 561 municípios, de acordo com o IBGE, essa tarefa pode ser árdua para os empresários que buscam atender adequadamente às regras a que são submetidos.

Como exemplo, em alguns municípios do Paraná o necessário é: Contrato com a companhia de saneamento para fazer o descarte na rede de esgoto; PGRS - Plano de Gerenciamento de Residuos de Saúde, assinado por um responsável tecnico devidamente habilitado; Alvará de licença sanitária expedida pela Vigilância Sanitária do Município; Licença Ambiental expedida pelo IAP - Instituto Ambiental do Paraná, conforme conta Edilson Lanzoni, do Sistema Prever Maringá.

Em São Paulo, alguns municípios exigem, além dos documentos, fossa séptica. Há localidades onde o Código Sanitário do Estado rege todo o processo. Nesse caso, quando não se fala em funerárias ou laboratórios de preparação de corpos, usa-se as analogias com o necrotério. E por aí vai ...

PARA TODOS
De modo geral, uma das principais regras a ser seguida para instalação de um tanatório  é do CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente - que em sua Resolução 358, de 29 de abril de 2005,  dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde., aí incluídos necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal.

A norma aqui é bem específica e fala da forma como devem ser tratados e destinados os resíduos, especificando grupos de riscos e citando providências a serem adotadas.

Quem vai implantar um tanatório também deve conhecer as “Orientações Técnicas para o Funcionamento de Estabelecimentos Funerários e Congêneres”, da ANVISA.

O documento descreve as atividades de competência das empresas funerárias, define responsabilidade técnica e legal, orienta as condições organizacionais e ainda estabelece a estrutura física necessária para o funcionamento operacional.

Lá estão listadas as condições gerais para empresas funerárias:
As edificações dos estabelecimentos sujeitos a esta orientação técnica devem observar minimamente as seguintes condições físicas gerais:

a) não possuir comunicação física com ambiente de domicílio ou outro estabelecimento que realize atividades não relacionadas às atividades constantes neste documento;

b) rede elétrica em bom estado de conservação e abastecimento com água potável;

c) reservatório de água potável revestido de material resistente e impermeável com cobertura adequada e capacidade de armazenamento compatível com o consumo;

d) esgoto sanitário ligados à rede pública. Nos locais em que não houver rede pública de esgoto, deve-se utilizar sistema de fossa séptica e sumidouro seguindo as normas NBR 8160 e NBR 7229 da ABNT e ou outros atos normativos que vierem a substituí-las ou complementá-las;

e) instalações elétricas e hidráulicas embutidas ou protegidas, facilitando a circulação e a higienização do ambiente;

f) forro ou teto em bom estado de conservação, revestido por material que possibilite limpeza e manutenção;

g) piso revestido de material resistente, anti-derrapante, impermeável e que possibilite processo completo de limpeza e desinfecção;

h) paredes, portas e janelas revestidas de material resistente, liso e lavável nos locais onde houver procedimentos de higienização, tamponamento, armazenagem temporária ou conservação de restos mortais humanos;

i) janelas e demais aberturas destinadas à ventilação do ambiente, onde sejam realizados procedimentos de higienização, tamponamento, armazenagem temporária ou conservação de restos mortais humanos, protegidas contra a entrada de insetos e outros animais;

j) condições de manejo de resíduos de acordo com a RDC ANVISA nº. 50/02, RDC ANVISA nº. 306/04, Resolução CONAMA nº. 358/05 e ou outros atos normativos que vierem a substituí-las ou complementá-las.

E também as condições específicas para os laboratórios de tanatopraxia:
Os estabelecimentos que realizam procedimentos de higienização, tamponamento e/ou conservação de restos mortais humanos, além do disposto nos itens 1 e 2 deste capítulo, deverão possuir as seguintes áreas:

a) área para embarque e desembarque de carro funerário: área exclusiva, com acesso privativo, distinto do acesso público ao estabelecimento funerário, com área mínima de 21 m2;

b) sala para higienização, tamponamento e procedimentos de conservação de restos mortais humanos: sala com acesso restrito aos funcionários do setor, devendo possuir área mínima de 9,00m2 para uma mesa tanatológica, acrescentando-se 5m2 por mesa tanatológica adicional. Devem atender ainda às seguintes especificações:

• Sistema mecânico de exaustão;

• Recursos para lavagem das mãos: pia ou lavatório com torneira ou comando que dispensa o contato das mãos para o fechamento da água, provisão de sabão líquido, além de recursos para secagem das mãos;

• Mesa ou bancada tanatológica para higienização de restos mortais humanos, com formato que facilita o escoamento de líquidos, feita em material liso e impermeável e que possibilite processos repetidos e sucessivos de limpeza, descontaminação e desinfecção.

• Vestiários para funcionários diferenciados por sexo, com área para escaninhos e boxes individualizados para chuveiros e bacias sanitárias;

c) sala ou área para higienização e esterilização de materiais e equipamentos:

Esse ambiente deve possuir:
• Acesso restrito aos funcionários do setor;

• Recursos para lavagem das mãos: pia ou lavatório com torneira ou comando que dispensa o contato das mãos para o fechamento da água, provisão de sabão líquido, além de recursos para secagem das mãos;

• Bancada com pia em material liso, impermeável para higienização de equipamentos e materiais;

• Equipamento para compatível com a demanda do estabelecimento e com os equipamentos e materiais que se pretende esterilizar.

Observação: A atividade de preparo e esterilização de materiais pode ser executada na sala para preparo e higienização de restos mortais humanos, desde que haja barreira técnica e as condições descritas no item C sejam observadas. Os recursos para higienização das mãos podem ser apenas um para os dois ambientes.

Nestes textos são citadas outras RDCs da ANVISA, a de número 50/02, que dispõe sobre o regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde, e a de número 306/04, que regulamenta o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.

É necessário ainda, conhecer as NBR 8160 e NBR 7229 da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Trata-se de textos específicos e técnicos sobre “Sistemas prediais de esgoto sanitário - Projeto e execução” e “Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos”.

O CTAF - Centro de Tecnologia e Administração Funerária - montou um grupo multidisciplinar composto de técnicos, advogados e engenheiros especializados em processos ambientais para orientar sua empresa na instalação correta de ambientes regulamentados. Para saber mais (14) 3882-0595

O que é PGRSS
Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde - PGRSS é um conjunto de procedimentos de gestão que visam o correto gerenciamento dos resíduos produzidos no estabelecimento. Todos os geradores de Resíduos de Serviços de Saúde devem elaborar o PGRSS, isso se estende à: necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação).

Os procedimentos devem ser, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente, seguindo, rigorosamente as legislações ANVISA RDC 306 e CONAMA 358.

O Plano deve abranger as etapas: recursos físicos, recursos materiais e capacitação dos recursos humanos envolvidos no manejo dos Resíduos de Serviços de Saúde.

O PGRSS deve ser compatível com as normas locais relativas à manuseio, coleta, transporte e disposição final dos resíduos gerados nos serviços de saúde, estabelecidas pelos órgãos locais responsáveis por estas etapas.

O QUE É UMA FOSSA SÉPTICA
Em algumas situações é exigido que o tanatório tenha uma fossa séptica. Trata-se de um dispositivo de tratamento destinado a receber e dar aos esgotos um grau de tratamento compatível com a sua simplicidade e custo. Bastante usado em zona rural e/ou sem serviço de rede de esgoto tratada.


São construídas para reter os despejos domésticos e/ou indústrias, por um período de tempo especificamente estabelecido, de modo a permitir sedimentação dos sólidos e retenção do material graxo contido nos esgotos, transformando-os bioquimicamente, em substâncias e compostos mais simples e estáveis.

O diâmetro, a profundidade, e o local de sua instalação estão regidos por normas técnicas (ABNT), mas é basicamente uma câmara, revestida de tijolos (com espaços entre eles para que o solo possa absorver líquidos) e provida de um filtro anaeróbico.

Esse filtro é composto de camadas de pedra britada, sobreposta por uma camada de areia e em seguida por carvão ativado. O tamanho dessas camadas deve ser dimensionado de acordo com a quantidade de resíduos que a fossa séptica irá receber e com a legislação em vigor.

É necessário acesso para manutenção.
Solange Serafim - Revista Diretor Funerário

Morte e Superação





Tomar vitaminas, praticar esportes, ter uma alimentação saudável e ir ao médico regularmente. Estas são algumas atitudes que muitas pessoas tentam colocar em prática a fim de atingir a longevidade. Mas de nada adianta se esforçar para cumprir isso se a saúde mental é deixada de lado.

Um estudo elaborado recentemente pela Universidade de Stanford, na Califórnia, desmente o senso comum de que experiências traumáticas podem fazer com que as pessoas vivam menos. Na verdade, o que estabelece nosso tempo de vida é a forma através da qual lidamos com essas situações difíceis.

Desde a tomada de um fora até a morte de uma pessoa querida, a maioria das pessoas já vivenciou algum tipo de experiência traumática. A princípio, superá-las pode parecer muito difícil, mas, no final das contas, não passa de um processo de aceitação e enfrentamento que depende exclusivamente de quem foi lesado pelo trauma. O especialista em comportamento humano, Eduardo Shinyashiki, dá os primeiros passos para o caminho de superação.

Para ele, as dificuldades começam a surgir a partir de um processo de retração que aparece depois da experiência traumática e acaba gerando um medo de enfrentar a situação. Shinyashiki conta que a primeira atitude para vencer o trauma é a admissão de que esse medo existe. "É importante que a pessoa seja honesta com ela mesma e perceba que há um medo que a paralisa. Socialmente, uma pessoa medrosa não é muito bem vista. Sobretudo por causa do sentimento de desqualificação. O primeiro passo é a aceitação da dificuldade", aponta.

Para o especialista em comportamento humano, se há uma coisa que a pessoa absolutamente não deve fazer é ficar ensimesmada, negar sua necessidade e, sobretudo, capacidade de resolver os problemas. "É preciso assumir a responsabilidade pelo que se deseja. Muitas vezes a pessoa diz que não é boa e usa expressões que formam subterfúgios para não ter que enfrentar a situação. Ela deve fazer diferente, estar focada no resultado", indica Shinyashiki.

Porém, nem sempre a pessoa consegue enfrentar um abalo psicológico com tamanha sobriedade. Às vezes, o processo traumático continua na imaginação da pessoa a ela passa a ter de conviver com a idéia falsa de que o que sofreu poderá se repetir a qualquer momento.

Shinyashiki explica que nesses casos um acompanhamento psicológico é uma ferramenta fundamental para o processo de mudança. O componente afetivo, acompanhado da necessidade de não se sentir sozinho, devem complementar esse acompanhamento. Ele se refere à tragédia ocorrida em uma escola em Realengo em que 12 crianças foram mortas por um atirador para mostrar como se dá esse processo de superação.

"Quando a gente imagina crianças indo para a escola de Realengo, a gente vê que muitos pediram para ir para outras escolas. Parece que o medo começa a ser o líder de nossas tomadas de decisão e que o mais confortável é não enfrentar a situação", explica Shinyashiki. "Mas chega o momento que esse jovem precisa retornar à escola para criar uma nova representação", completa.

Mas nem sempre é preciso que a pessoa sofra uma experiência traumática para ter os mesmos problemas de alguém que de fato passou por uma. É possível que, ao imaginar com muita frequência como seria determinada situação difícil, a pessoa crie um medo e um bloqueio que não têm razão alguma de ser. "Muitas vezes, a pessoa nem passou por uma experiência traumática ao vivo, mas no imaginário. Aí ela passa ser um passageiro da existência", diz Shinyashiki.

Pessoas que dão uma reviravolta na vida e encontram uma nova maneira de encará-la tendem a ser mais satisfeitas consigo mesmas. O especialista em comportamento humano ilustra isso com o seguinte trecho da crônica "Pipocas da Vida", de Rubem Alves: "Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo".

Fonte: www.vilamulher.com.br

Marmoraria J. Savoia





Miniatura de Catedral - Mármore - data? - Cemitério da Consolação - Rua 37 - 1/2
        Autor não identificado.

        Conhecida marmoraria de São Paulo, especializada em construção e montagem de monumentos funerários. Executou para Vicente Larocca um grupo escultórico em bronze, de 7m de altura, que se encontra na Rua 37 do Cemitério da Consolação. 
        Na mesma rua em que se encontra esse grupo escultórico executou a montagem de uma notável réplica miniaturizada de uma catedral gótica, um mármore de carrara, com 12,50m de altura, contendo detalhes que lhe são inerentes. Este último trabalho, vindo da Itália, e de autoria não determinada.
        Dentre as obras de valor histórico e artístico do Cemitério da Consolação destaca-se o bronze, em oval ( década de 80 do século XIX) no Mausoléu do Chapeleiros da Fábrica de Chapéus João Alfredo, de AUTORIA NÃO DETERMINADA, onde se vê a fábrica, a maior do gênero em São Paulo na época, situada no local, onde atualmente está localizada a estação do Metrô Anhangabau. 

Miniatura de Catedral (detalhe)
        A escultura mostra o córrego que vinha da Ladeira da Memória e levava água para a fábrica, à direita as plantações de chá (origem do nome dado ao viaduto), um filete ao alto, que representa o córrego Saracura-Mirim (nome das aves pernaltas existentes na região), cuja nascentes ficava no Bexiga.


Mausoléu dos Chapeleiros - Bronze - data??? - Cemitéria da Consolação - Quadra 13 - 21/22



Mausoléu dos Chapeleiros (detalhe)


fonte: http://www.funerariaonline.com.br/Dicas/Default.asp?idnews=4001

É Adequado Só Aspirar o Corpo?


O processo da decomposição do corpo se processa de duas formas:

a)Pela ação de microorganismos (Bactérias, fungos e vírus).

b)Pela autólise (Autodestruição celular)

As bactérias presentes em nosso organismo (interna e externamente), por ocasião do óbito, multiplicam-se desordenadamente e passam a se alimentar dele promovendo sua decomposição de forma acelerada porque nesse processo desencadeia-se também a autólise.

O estado do corpo (inchaço, obesidade), a causa da morte (septicemia, afogamento, doenças renais) e o tempo decorrido após a morte, dentre outros, são fatores determinantes na aceleração do processo da decomposição. Normalmente a decomposição inicia-se pelo aparelho digestivo atingindo suas extremidades (boca e ânus) provocando vazamentos de líquidos e gases por essas aberturas.

Para retardar esse processo o mais bem sucedido tratamento é a tanatopraxia, técnica mundialmente aceita que higieniza o corpo interna e externamente eliminando fungos, vírus e bactérias, estabiliza e fixa as células e mantém a aparência natural que a pessoa tinha em vida.

Esta técnica traz segurança aos parentes e amigos durante o velório, protegendo contra qualquer possibilidade de contaminações com o corpo, evita vazamentos, inchaços e mau cheiro, situação constrangedora e que denigre a imagem da pessoa falecida.

Para a execução da conservação do cadáver a ANVISA determina regras que protegem a saúde pública, o meio ambiente e os trabalhadores funerários. (RDC 068 e RDC 306)

a) Laboratório de tanatopraxia ou necrotério com no mínimo 20 metros quadrados, pisos e paredes impermeáveis e laváveis, sistema de ventilação e exaustão, mesa para lavar o corpo com sistema de esgoto e água corrente.

b) Alvará sanitário específico para preparo e conservação de cadáveres.

c) Médico responsável técnico pelo laboratório que assinará todas as atas de conservação de cadáveres.

d) Elaboração do PGRSS que identificará, quantificará, selecionará e dará o correto destino para todos os resíduos gerados.

Conhecendo o processo da decomposição, facilmente chegamos a conclusão de que somente com a aspiração e tratamento das cavidades não temos garantias de prevenção de vazamentos e mau cheiro além de propiciarmos uma boa condição de aceleração da degradação do corpo.

Durante a aspiração do abdome a vara trocadora entra em contato com as fezes e, na medida em que perfura órgãos e as paredes do tronco, espalha e planta bactérias contaminando todos os tecidos (pele, músculos, gordura). O fluido cavitario não está presente nas células destes tecidos que passam a ser alimento e ambiente adequado à proliferação de microorganismos.

A eficiência da técnica da tanatopraxia está no fluido arterial que percorre todo o organismo, célula por célula, fixando e eliminando fungos, vírus e bactérias e, após a injeção arterial, a aspiração e tratamento das cavidades completam o tratamento.

Com a tanatopraxia exercida de forma correta o serviço funerário desempenha sua atividade de forma segura, garantida e legal, de outra forma poderemos colocar em risco nossa reputação ganha com árduo esforço por uma vida inteira.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

As Difíceis Tarefas do Luto


“Saudade é o amor que fica”
Clarice Lispector


Foi lançado recentemente um importante livro no campo da Tanatologia “Amor e Perda: as raízes do luto e suas complicações”(1). O autor, Colin Murray Parkes, que já esteve no Brasil algumas vezes, é um conceituado pesquisador da área, cujas contribuições são de inestimável valor para os profissionais que lidam direta ou indiretamente com luto e perdas.

Na introdução, Colin nos lembra que se o amor, laço psicológico que vincula uma pessoa a outra, é a fonte de prazer mais profunda na vida, a perda daqueles que amamos é a mais profunda fonte de dor. Administrar o amor parece tarefa fácil, mas como dar conta da dor de um rompimento amoroso, de um laço afetivo intenso?

Nossa experiência com famílias enlutadas têm nos ajudado a compreender quão complexa e desorganizadora é essa vivência. Não há um conjunto de regras que possam sinalizar os procedimentos a serem tomados, o luto é um processo individual, de tempo indefinido e com manifestações mais diversas possíveis.

O que é sabido, contudo, é que muitas mudanças acontecem do lado de dentro e do lado de fora. A construção de uma nova identidade, sem a presença da pessoa amada, vai demandar um tempo psicológico que é muito diferente, em seu mecanismo interno, do tempo real do relógio.

O próprio Freud(2), em Luto e Melancolia, cunhou o termo “trabalho de luto”, entendendo que o mesmo requer uma elaboração psicológica e um longo processo de reorganização. O “start” desse processo se dá no contato da pessoa com a realidade da perda, ou seja, com a notícia da morte, com a preparação da cerimônia de velório, sepultamento. No contato com o corpo, com o sentimento de ausência e de irreversibilidade da morte, o enlutado começa o seu trabalho de luto.

Aceitar a realidade da morte 

A tarefa inicial é aceitar a realidade da perda. Enfrentar essa idéia exigirá uma luta grande entre o real e o imaginário. Pode acontecer de alguns enlutados ficarem fixados na idéia de que o falecido está viajando. É também freqüente ouvir os familiares, ao se referirem à pessoa, falarem no tempo presente.

A procura por objetos, cheiros, fios de cabelo, última roupa usada, etc. também é outro movimento para lidar com a perda. Sabemos que esses mecanismos trazem um conforto psicológico temporário e aliviam a dor da perda, mas só postergam a aceitação da realidade que será inevitável.

Expressar a dor

Aliada à essa difícil constatação da perda e da ausência, outro trabalho se faz necessário: o exercício de expressão da dor. Enfrentar esses momentos exige canais de expressão que nem sempre são utilizados pelo enlutado. Estudos científicos apontam para o grande ônus físico e mental de reter e conter sentimentos. Mais especificamente, na área da psicologia, é sabido que sentimentos que não têm expressão tornam-se fermento para a “depressão”. Assim, é importante que o enlutado encontre um canal de expressão que possa ajudá-lo na re-significação dos seus sentimentos mesmo que algumas manifestações como chorar, visitar diariamente o jazigo, trazer flores, fotos e bilhetes, possam vir na contra mão do que se espera dele.

Reorganização

Por fim, o enlutado é impelido a ajustar-se ao novo meio ambiente, a se reorganizar emocionalmente e continuar sua vida, agora sem a pessoa que amou - tarefa de grande monta que implica em encontrar outro lugar para a pessoa falecida. Dizemos que o momento de um equilíbrio suportável é quando o enlutado passa a não morrer de saudade, mas a viver a saudade.

Recentemente, convivemos com a notícia da tragédia do desaparecimento do avião AF 744 da Air France, com todos os seus passageiros. Além, naturalmente, de nos solidarizarmos com as famílias, nossa preocupação se aloja nas variáveis que por certo complicarão os processos de luto decorrentes desse episódio.

Como vimos acima, o inicio do processo de luto se dá com a notícia da morte, com a preparação da cerimônia de velório, sepultamento e com o contato com o corpo. Essas famílias, com certeza, terão muito mais intercorrências nesse curso do enlutamento. Não há corpos identificados, não há cerimônia de sepultamento, o que pode dificultar ou mesmo impedir uma despedida. Não há explicação que justifique o ocorrido, por isso, grandes esperanças, dúvidas e sofrimento vão pairar por muito tempo entre os familiares.

Não parece nada fácil lidar com as perdas e viver um luto. Mesmo sabendo que a morte faz parte do ciclo da vida, insistimos em não arquivar essa verdade em nossos vínculos e em nossas relações amorosas. Por isso, somos tomados por tanto sofrimento quando a natureza nos lembra que somos parte dela.

(1)PARKES, Colin Murray Amor e Perda: raízes do luto e suas complicações; [tradução Maria Helena Franco] .São Paulo:Summus, 2009
(2)FREUD, S (1915). Luto e melancolia – trabalhos sobre metapsicologia vol.14. Obras completas.



Fonte:
Ana Lúcia Naletto e Lélia de Cássia Faleiros são psicólogas do Centro Maiêutica e desenvolvem trabalhos na área de apoio ao luto em cemitérios, crematórios e funerárias. www.centromaieutica.com.br

Agente Funerário: Um Olhar Histórico Sobre o Surgimento Dessa Profissão



Estava o corpo morto nu ou vestido para viagem?
O que te fez declarar morto o corpo morto?
Declaraste morto o corpo morto?
Conhecias bem o corpo morto?
Como soubeste que o corpo morto estava morto?
(Haroldo Pinter)


Propusemo-nos a fazer, nos próximos dois artigos, uma discussão e reflexão sobre a origem de duas importantes funções: a dos agentes funerários e dos tanatopraxistas.

Não fomos educados para conviver com a morte. Perder parece ser uma palavra que foi sendo tirada do nosso dicionário, ninguém quer perder alguma coisa, por mais simples que ela seja, muito menos perder pessoas a quem ama. Essa vivência é arrebatadora, sem qualquer lógica que a razão possa explicar.

A morte tem sido tema de afastamento e repulsa de toda a construção humana de conhecimento. É a única presença permanente na vida e, ao mesmo tempo, é pela sua concretização que a vida desaparece.

A forma como os homens concebem a morte e tudo que se aproxima dela tem sofrido transformações ao longo dos tempos. No passado a morte acontecia em casa junto com as famílias, o corpo era cuidado pelos parentes e não causava aversão e medo. Os rituais eram longos, com muitas pompas fúnebres e de acordo com a cultura do falecido. O local do sepultamento era nas igrejas ou próximo da casa.

Os rituais sempre foram acontecimentos importantes que simbolizam as fases e passagens distintas da vida humana. Fato que faz com que as celebrações - nascimento, formatura, casamento e morte - sejam ocasiões que simbolizam as transformações e mudanças de um estado para outro. Assim, o rito de passagem da morte é materializado por meio dos funerais e dos velórios, nos quais o corpo é o representante maior da passagem.

Com o passar dos tempos o corpo começa a despertar medo e receio. O que até então era enterrado, muitas vezes, só coberto com lençóis, passa a ser colocado no caixão. A morte vai se afastando do seio familiar e se alojando nos hospitais. Passa a ser considerada, aos poucos, uma afronta e, acaba sendo expulsa e ignorada da vida humana.

Os velórios são retirados das casas e vão para os cemitérios que também vão se afastando cada vez mais da cidade e se transformando no que chamamos de cemitérios parques.

As cerimônias ficam cada vez mais discretas e há uma supressão do luto com pouco espaço para os rituais, para a dor e pranto.
As famílias, que antes cuidavam do corpo, agora parecem evitar esta tarefa, como forma de manter o distanciamento da morte. Um novo personagem começa a ser solicitado: aquele que vai cuidar da arrumação do corpo que será velado, do funeral e dos primeiros encaminhamentos do velório.

Através de histórias reais ou mitológicas podemos sempre encontrar uma menção de preparação do corpo. A ritualização do corpo parece trazer várias questões manifestas e latentes, reais e imaginárias que nos dizem nas entrelinhas sobre importantes olhares sobre a morte e os mortos.

Em nossa cultura há uma forte preocupação com a decomposição do corpo e em torno dessa questão foram se concretizando práticas cada vez mais sofisticadas de mumificação, embalsamamento, higienização e preparação do corpo para o velório. Os agentes funerários e os tanatopraxistas surgiram dentro desse cenário e tiveram importante papel junto com as famílias em luto.

Sabemos que a morte de um familiar é um episódio doloroso e que deixa todos fragilizados e vulneráveis a qualquer solicitação externa. Assim com a crescente demanda, houve a ampliação e participação dos agentes funerários, que agora executam tarefas que, entes pertenciam à família, como: organização e realização dos funerais, providenciando os preparativos (limpeza, vestimenta do cadáver, e, as vezes, a tanatopraxia), transporte e demais serviços para poupar a família desse trabalho.

Desta forma, vimos que a crença da morte como inimiga e, consequentemente, do morto como o representante da impotência e da finitude do homem, foram responsáveis por uma série de mudanças no que se referem aos rituais, ao sepultamento e mais recentemente a preparação do corpo.

Acreditamos que o conhecimento deste trajeto até aqui traçado, pode nos ajudar a compreender não só a inserção desse profissional, bem como a importância que ele passa a ter no acompanhamento e auxílio à família enlutada. Com a sofisticação de todo esse aparato temos a implantação oficial no Brasil - na década de noventa - da tanatopraxia.

No próximo artigo trataremos com mais detalhes das questões ligadas a tanatopraxia.


Fonte: Ana Lúcia Naletto e Lélia de Cássia Faleiros são psicólogas do Centro Maiêutica e desenvolvem trabalhos na área de apoio ao luto em cemitérios, crematórios e funerárias. www.centromaieutica.com.br

domingo, 7 de abril de 2013

Conceito de Anatomia





No seu conceito mais amplo, a Anatomia é a ciência que estuda, macro e microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados.

Um excelente e amplo conceito de Anatomia foi proposto em 1981 pela American Association of Anatomists: anatomia é a análise da estrutura biológica, sua correlação com a função e com as modulações de estrutura em resposta a fatores temporais, genéticos e ambientais. Tem como metas principais a compreensão dos princípios arquitetônicos da construção dos organismos vivos, a descoberta da base estrutural do funcionamento das várias partes e a compreensão dos mecanismos formativos envolvidos no desenvolvimento destas. A amplitude da anatomia compreende, em termos temporais, desde o estudo das mudanças a longo prazo da estrutura, no curso de evolução, passando pelas das mudanças de duração intermediária em desenvolvimento, crescimento e envelhecimento; até as mudanças de curto prazo, associadas com fases diferentes de atividade funcional normal.

Em termos do tamanho da estrutura estudada vai desde todo um sistema biológico, passando por organismos inteiros e/ou seus órgãos até as organelas celulares e macromoléculas.


A palavra Anatomia é derivada do grego anatome (ana = através de; tome = corte). Dissecação deriva do latim (dis = separar; secare = cortar) e é equivalente etimologicamente a anatomia. Contudo, atualmente, Anatomia é a ciência, enquanto dissecar é um dos métodos desta ciência.

Seu estudo tem uma longa e interessante história, desde os primórdios da civilização humana. Inicialmente limitada ao observável a olho nu e pela manipulação dos corpos, expandiu-se, ao longo do tempo, graças a aquisição de tecnologias inovadoras.


Atualmente, a Anatomia pode ser subdividida em três grandes grupos: Anatomia macroscópica, Anatomia microscópica e Anatomia do desenvolvimento.

A Anatomia Macroscópica é o estudo das estruturas observáveis a olho nu, utilizando ou não recursos tecnológicos os mais variáveis possíveis, enquanto a Anatomia Microscópica é aquela relacionada com as estruturas corporais invisíveis a olho nu e requer o uso de instrumental para ampliação, como lupas, microscópios ópticos e eletrônicos. Este grupo é dividido em Citologia (estudo da célula) e Histologia (estudo dos tecidos e de como estes se organizam para a formação de órgãos).

A Anatomia do Desenvolvimento estuda o desenvolvimento do indivíduo a partir do ovo fertilizado até a forma adulta. Ela engloba a Embriologia que é o estudo do desenvolvimento até o nascimento.

A Anatomia Humana, a Anatomia Vegetal e a Anatomia Comparada também são especializações da anatomia. Na anatomia comparada faz-se o estudo comparativo da estrutura de diferentes animais (ou plantas) com o objetivo de verificar as relações entre eles, o que pode elucidar sobre aspectos da sua evolução.

História da Anatomia


O conhecimento anatômico do corpo humano data de quinhentos anos antes de Cristo no sul da Itália com Alcméon de Crotona, que realizou dissecações em animais. Pouco tempo depois, um texto clínico da escola hipocrática descobriu a anatomia do ombro conforme havia sido estudada com a dissecação. Aristóteles mencionou as ilustrações anatômicas quando se referiu aos paradigmas, que provavelmente eram figuras baseadas na dissecação animal. No século III A.C., o estudo da anatomia avançou consideravelmente na Alexandria. Muitas descobertas lá realizadas podem ser atribuídas a Herófilo e Erasístrato, os primeiros que realizaram dissecações humanas de modo sistemático. A partir do ano 150 A..C. a dissecação humana foi de novo proibida por razões éticas e religiosas. O conhecimento anatômico sobre o corpo humano continuou no mundo helenístico, porém só se conhecia através das dissecações em animais. No século II D.C., Galeno dissecou quase tudo, macacos e porcos, aplicando depois os resultados obtidos na anatomia humana, quase sempre corretamente; contudo, alguns erros foram inevitáveis devido à impossibilidade de confirmar os achados em cadáveres humanos. Galeno desenvolveu assim mesmo a doutrina da "causa final", um sistema teológico que requeria que todos os achados confirmassem a fisiologia tal e qual ele a compreendia.

Porém não chegaram até nós as ilustrações anatômicas do período clássico, sendo as "séries de cinco figuras" medievais dos ossos, veias, artérias, órgãos internos e nervos são provavelmente cópias de desenhos anteriores. Invariavelmente, as figuras são representadas numa posição semelhante a de uma rã aberta, para demonstrar os diversos sistemas, às vezes, se agrega uma sexta figura que representa uma mulher grávida e órgãos sexuais masculinos ou femininos. Nos antigos baixos-relevos, camafeus e bronzes aparecem muitas vezes representações de esqueletos e corpos encolhidos cobertos com a pele (chamados lêmures), de caráter mágico ou simbólico mais que esquemático e sem finalidade didática alguma.

Parece que o estudo da anatomia humana recomeçou mais por razões práticas que intelectuais. A guerra não era um assunto local e se fez necessário dispor de meios para repatriar os corpos dos mortos em combate. O embalsamento era suficiente para trajetos curtos, mas as distâncias maiores como as Cruzadas introduziram a prática de "cocção dos ossos". A bula pontifica De sepulturis de Bonifácio VIII (1300), que alguns historiadores acreditaram equivocadamente proibir a dissecção humana, tentava abolir esta prática. O motivo mais importante para a dissecação humana, foi o desejo de saber a causa da morte por razões essencialmente médico-legais, de averiguar o que havia matado uma pessoa importante ou elucidar a natureza da peste ou outra enfermidade infecciosa.

O verbo "dissecar" era usado também para descrever a operação cesariana cada vez mais freqüente. A tradição manuscrita do período medieval não se baseou no mundo natural. As ilustrações anteriores eram aceitas e copiadas. Em geral, a capacidade dos escritores era limitada e ao examinar a realidade natural, introduziram pelo menos alguns erros, tanto de conceito como de técnica. As coisas "eram vistas" tal qual os antigos e as ilustrações realistas eram consideradas como um curto-circuito do próprio método de estudo.


A anatomia não era uma disciplina independente, mas um auxiliar da cirurgia, que nessa época era relativamente grosseira e reunia sobre todo conhecer os pontos apropriados para a sangria. Durante todo o tempo que a anatomia ostentou essa qualidade oposta à prática, as figuras não-realistas e esquemáticas foram suficientes.

O primeiro livro ilustrado com imagens impressas mais do que pintadas foi a obra de Ulrich Boner Der Edelstein. Foi publicada por Albrecht Plister em Banberg depois de 1460 e suas ilustrações foram algo mais que decorações vulgares. Em 1475, Konrad Megenberg publicou seu Buch der Natur, que incluía várias gravuras em madeira representando peixes, pássaros e outros animais, assim como plantas diversas. Essas figuras, igual a muitas outras pertencentes a livros sobre a natureza e enciclopédias desse período, estão dentro da tradição manuscrita e são dificilmente identificáveis.

Dentre os muitos fatores que contribuíram para o desenvolvimento da técnica ilustrativa no começo do século XVI, dois ocuparam lugar destacado: o primeiro foi o final da tradição manuscrita consistente em copiar os antigos desenhos e a conversão da natureza em modelo primário. Chegou-se ao convencimento de que o mais apropriado para o homem era o mundo natural e não a posteridade. O escolasticismo de São Tomás de Aquino havia preparado inadvertidamente o caminho através da separação entre o mundo natural e o sobrenatural, prevalecendo a teologia sobre a ciência natural. O segundo fator que influiu no desenvolvimento da ilustração científica para o ensino foi a lenta instauração de melhores técnicas. No começo os editores, com um critério puramente quantitativo, pensaram que com a imprensa poderiam fazer grande quantidade de reproduções de modo fácil e barato. Só mais tarde reconheceram a importância que cada ilustração fosse idêntica ao original. A capacidade para repetir exatamente reproduções pictórica, daquilo que se observava, constituiu a característica distinta de várias disciplinas científicas, que descartaram seu apoio anterior à tradição e aceitação de uma metodologia, que foi descritiva no princípio e experimental mais tarde.


As primeiras ilustrações anatômicas impressas baseiam-se na tradição manuscrita medieval. O Fasciculus medicinae era uma coleção de textos de autores contemporâneos destinada aos médicos práticos, que alcançou muitas edições. Na primeira (1491) utilizou-se a xilografia pela primeira vez, para figuras anatômicas. As ilustrações representam corpos humanos mostrando os pontos de sangria, e linhas que unem a figura às explicações impressas nas margens. As dissecações foram desenhadas de uma forma primitiva e pouco realista.

Na Segunda edição (1493), as posições das figuras são mais naturais. Os textos de Hieronymous Brunschwig (cerca de 1450-1512) continuaram utilizando ilustrações descritivas. O capítulo final de uma obra de Johannes Peyligk (1474-1522) consiste numa breve anatomia do corpo humano como um todo, mas as onze gravuras de madeira que inclui são algo mais que representações esquemáticas posteriores dos árabes. Na Margarita philosophica de George Reisch (1467-1525), que é uma enciclopédia de todas as ciências, forma colocadas algumas inovações nas tradicionais gravuras em madeira e as vísceras abdominais são representadas de modo realista.


Além desses textos anatômicos destinados especificamente aos estudantes de medicina e aos médicos, foram impressas muitas outras páginas com figuras anatômicas, intituladas não em latim (como todas as obras para médicos), mas sim em várias línguas vulgares. Houve um grande interesse, por exemplo, na concepção e na formação do feto humano. O uso freqüente da frase "conhece-te a ti mesmo" fala da orientação filosófica e essencialmente não médica. A "Dança da Morte" chegou a ser um tema muito popular, sobretudo nos países de língua germânica, após a Peste Negra e surpreendentemente, as representações dos esqueletos e da anatomia humana dos artistas que as desenharam são melhores que as dos anatomistas.

Os artistas renascentistas do século XV se interessavam cada vez mais pelas formas humanas, e o estudo da anatomia fez parte necessária da formação dos artistas jovens, sobretudo no norte da Itália.

Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o primeiro artista que considerou a anatomia além do ponto de vista meramente pictórico. Fez preparações que logo desenhou, das quais são conservadas mais de 750, e representam o esqueleto, os músculos, os nervos e os vasos. As ilustrações foram completadas muitas vezes com anotações do tipo fisiológico. A precisão de Leonardo é maior que a de Vesalio e sua beleza artística permanece inalterada. Sua valorização correta da curvatura da coluna vertebral ficou esquecida durante mais de cem anos. Representou corretamente a posição do fetus in utero e foi o primeiro a assinalar algumas estruturas anatômicas conhecidas. Só uns poucos contemporâneos viram seus folhetos que, sem dúvida, não foram publicados até o final do século passado.


Michelangelo Buonarotti (1475-1564) passou pelo menos vinte anos adquirindo conhecimentos anatômicos através das dissecações que praticava pessoalmente, sobretudo no convento de Santo Espírito de Florença. Posteriormente expôs a evolução a que esteve sujeito, ao considerar a anatomia pouco útil para o artista até pensar que encerrava um interesse por si mesma, ainda que sempre subordinada à arte.

Albrecht Dürer (1471-1528) escreveu obras de matemática, destilação, hidráulica e anatomia. Seu tratado sobre as proporções do corpo humano foi publicado após sua morte. Sua preocupação pela anatomia humana era inteiramente estética, derivando em último extremo um interesse pelos cânones clássicos, através dos quais podia adquirir-se a beleza.

Com a importante exceção de Leonardo, cujos desenhos não estiveram ao alcance dos anatomistas do século XVII, o artista do Renascimento era anatomista só de maneira secundária. Ainda foram feitas importantes contribuições na representação realista da forma humana (como o uso da perspectiva e do sombreado para sugerir profundidade e tridimensionalidade), e os verdadeiros avanços científicos exigiam a colaboração de anatomistas profissionais e de artistas. Quando os anatomistas puderam representar de modo realista os conhecimentos anatômicos corretos, se iniciou em toda Europa um período de intensa investigação, sobretudo no norte da Itália e no sul da Alemanha. O melhor representante deste grupo é Jacob Berengario da Capri (+1530), autor dos Commentaria super anatomica mundini (1521), que contém as primeiras ilustrações anatômicas tomadas do natural. Em 1536, Cratander publicou em Basiléia uma edição das obras de Galeno, que incluía figuras, especialmente de osteologia, feitas de um modo muito realista. A partir de uma data tão cedo como 1532, Charles Estienne preparou em Paris uma obra em que ressaltava a completa representação pictórica do corpo humano.

 

VESÁLIO


Uma das primeiras e mais acertada solução para uma reprodução perfeita das representações gráficas foi encontrada nas ilustrações publicadas nos tratados anatômicos de Andrés Vesálio (1514-1564), que culminou com seu De humanis corpori, fabricada em 1553, um dos livros mais importantes da história do homem. Vesálio comprovou também que não são iguais em todos os indivíduos. Relatou sua surpresa ao encontrar inúmeros erros nas obras de Galeno, e temos que ressaltar a importância de sua negativa em aceitar algo só por tê-lo encontrado nos escritos do grande médico grego. Sem dúvida, apesar de ter desmentido a existência dos orifícios que Galeno afirmava existir comunicando as cavidades cardíacas, foi de todas as maneiras um seguidor da fisiologia galênica. Foram engrandecidas as diferenças que separavam seu conhecimento anatômico do de Galeno, começando pelo próprio Vesálio.


Talvez pensasse que uma polêmica era um modo de chamar atenção. Manteve depois uma disputa acirrada com seu mestre Jacques du Bois (ou Sylvius, na forma latina), que foi um convencido galenista cuja única resposta, ante as diferenças entre algumas estruturas tal como eram vistas por Vesálio e como as havia descrito Galeno, foi que a humanidade devia tê-lo mudado durante esses dois séculos.

Vesálio tinha atribuído o traçado das primeiras figuras a um certo Fleming, mas na Fabrica não confiou em ninguém, e a identidade do artista ou artistas que colaboraram na sua obra tem sido objeto de grande controvérsia, que se acentuou ante a questão de quem é mais importante, se o artista ou o anatomista. Essa última foi uma discussão não pertinente, já que é óbvio que as ilustrações são importantes precisamente porque juntam uma combinação de arte e ciência, uma colaboração entre o artista e o anatomista. As figuras da Fabrica implicam em tantos conhecimentos anatômicos que forçosamente Vesálio devia participar na preparação dos desenhos, ainda que o grau de refinamento e do conhecimento de técnicas novas de desenho, também para os artistas do Renascimento, excluem também que fora o único responsável. Até hoje é discutido se Jan Stephan van Calcar (1499-1456/50), que fez as primeiras figuras e trabalhou no estúdio de Ticiano na vizinha Veneza, era o artista. De qualquer maneira, havia-se encontrado uma solução na busca de uma expressão pictórica adequada aos fenômenos naturais.

No século XVII foram efetuadas notáveis descobertas no campo da anatomia e da fisiologia humana. Francis Glisson (1597-1677) descreveu em detalhes o fígado, o estômago e o intestino. Apesar de seus pontos de vista sobre a biologia serem basicamente aristotélicos, teve também concepções modernas, como a que se refere aos impulsos nervosos responsáveis pelo esvaziamento da vesícula biliar.

Thomas Wharton (1614-1673) deu um grande passo ao ultrapassar a velha e comum idéia de que o cérebro era uma glândula que secretava muco (sem dúvida, continuou acreditando que as lágrimas se originavam ali). Wharton descreveu as características diferenciais das glândulas digestivas, linfáticas e sexuais. O conduto de evacuação da glândula salivar submandibular conhece-se como conduto de Wharton. Uma importante contribuição foi distinguir entre glândulas de secreção interna (chamadas hoje endócrinas), cujo produto cai no sangue, e as glândulas de secreção externa (exócrinas), que descarregam nas cavidades.

Niels Steenson, em 1611, estabeleceu a diferença entre esse tipo de glândula e os nódulos linfáticos (que recebiam o nome de glândula apesar de não fazer parte do sistema). Considerava que as lágrimas provinham do cérebro. A nova concepção dos sistemas de transporte do organismo que se obteve graças às contribuições de muitos investigadores ajudou a resolver os erros da fisiologia galênica referentes à produção de sangue.


Gasparo Aselli (1581-1626) descobriu que após a ingestão abundante de comida o peritônio e o intestino de um cachorro se cobriam de umas fibras brancas que, ao serem seccionadas, extravasavam um líquido esbranquiçado. Tratava-se dos capilares quilíferos. Até a época de Harvey se pensava que a respiração estimulava o coração para produzir espíritos vitais no ventrículo direito. Harvey, porém, demonstrou que o sangue nos pulmões mudava de venoso para arterial, mas desconhecia as bases desta transformação. A explicação da função respiratória levou muitos anos, mas durante o século XVII foram dados passos importantes para seu esclarecimento.

Robert Hook (1635-1703) demonstrou que um animal podia sobreviver também sem movimento pulmonar se inflássemos ar nos pulmões.

Richard Lower (1631-1691) foi o primeiro a realizar transfusão direta de sangue, demonstrando a diferença de cor entre o sangue arterial e o venoso, a qual se devia ao constato com o ar dos pulmões.

John Mayow (1640-1679) afirmou que a vermelhidão do sangue venoso se devia à extração de alguma substância do ar. Chegou à conclusão de que o processo respiratório não era mais que um intercâmbio de gases do ar e do sangue; este cedia o espírito nitroaéreo e ganhava os vapores produzidos pelo sangue.

Em 1664 Thomas Willis (1621-1675) publicou De Anatomi Cerebri (ilustrado por Christopher Wren e Richard Lower), sem dúvida o compêndio mais detalhado sobre o sistema nervoso. Seus estudos anatômicos ligaram seu nome ao círculo das artérias da base do cérebro, ao décimo primeiro par craniano e também a um determinado tipo de surdez. Contudo, sua obsessão em localizar no nível anatômico os processos mentais o fez chegar a conclusões equívocas; entre elas, que o cérebro controlava os movimentos do coração, pulmões, estômago e intestinos e que o corpo caloso era assunto da imaginação.

A partir de então, o desenvolvimento da anatomia acelerou-se. Berengario da Carpi estudou o apêndice e o timo, e Bartolomeu Eustáquio os canais auditivos. A nova anatomia do Renascimento exigiu a revisão da ciência. O inglês William Harvey, educado em Pádua, combinou a tradição anatômica italiana com a ciência experimental que nascia na Inglaterra. Seu livro a respeito, publicado em 1628, trata de anatomia e fisiologia. Ao lado de problemas de dissecação e descrição de órgãos isolados, estuda a mecânica da circulação do sangue, comparando o corpo humano a uma máquina hidráulica. O aperfeiçoamento do microscópio (por Leeuwenhoek) ajudou Marcello Malpighi a provar a teoria de Harvey, sobre a circulação do sangue, e também a descobrir a estrutura mais íntima de muitos órgãos. Introduzia-se, assim, o estudo microscópico da anatomia. Gabriele Aselli punha em evidência os vasos linfáticos; Bernardino Genga falava, então, em “anatomia cirúrgica”.

Nos séculos XVIII e XIX, o estudo cada vês pormenorizado das técnicas operatórias levou à subdivisão da anatomia, dando-se muita importância à anatomia topográfica. O estudo anatômico-clínico do cadáver, como meio mais seguro de estudar as alterações provocadas pela doença, foi introduzido por Giovan Battista Morgani. Surgia a anatomia patológica, que permitiu grandes descobertas no campo da patologia celular, por Rudolf Virchow, e dos agentes responsáveis por doenças infecciosas, por Pasteur e Koch.

Recentemente, a anatomia tornou-se submicroscópica. A fisiologia, a bioquímica, a microscopia eletônica e positrônica, as técnicas de difração com raios X, aplicadas ao estudo das células, estão descrevendo suas estruturas íntimas em nível molecular.

Hoje em dia há a possibilidade de estudar anatomia mesmo em pessoas vivas, através de técnicas de imagem como a radiografia, a endoscopia, a angiografia, a tomografia axial computadorizada, a tomografia por emissão de positrões, a imagem de ressonância magnética nuclear, a ecografia, a termografia e outras.