quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Anatomia Patológica e Citopatologia

Anatomia Patológica e Citopatologia

Anatomia patológica é um ramo da patologia e da medicina que lida com o diagnóstico das doenças baseado no exame macroscópico de peças cirúrgicas e microscópicos para o exame de células e tecidos.
Citopatologia é o estudo das células e suas alterações em casos patológicos.
O exame citopatológico, inclusive o "preventivo ginecológico", envolve uma avaliação morfológica celular a caráter de exame complementar e determinante para a detecção por exemplo de uma pré-malignidade, que quando associado a um quadro clínico específico, permite ao médico analisar claramente o paciente e direcionar um tratamento específico

O que é e o que faz um médico anátomo-patologista?

“Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia, o médico anátomo-patologista é um médico especializado na arte e na ciência do diagnóstico. Trabalham em laboratórios particulares, hospitais ou universidades. Auxiliados por uma equipe, composta por técnicos de laboratório e assistentes administrativos, são capazes de receber, analisar e emitir seus laudos anatomopatológicos.
O laboratório de patologia é visto pelo paciente como uma “caixa preta”: um conjunto de equipamentos sofisticados, onde o material é recebido e o diagnóstico aparece quase que milagrosamente, impresso em um laudo. Porém, essas interpretações e diagnósticos complicados são feitos por um profissional altamente qualificado e em constante atualização, que é o patologista.
Baseados nesses laudos, os clínicos e cirurgiões que acompanham os pacientes podem decidir entre as opções de tratamento. Eventualmente, os clínicos examinam com os patologistas os detalhes técnicos específicos dos laudos e, em alguns casos, discutem opções de tratamento. Freqüentemente há necessidade de entrar em contato com o médico assistente, esclarecer dúvidas e saber detalhes da doença para redigir o laudo com precisão.
Os laudos anatomopatológicos são escritos em termos técnicos específicos, pois são redigidos para que o médico assistente saiba com exatidão sobre a doença. Embora muitas vezes pareça que o paciente não tem acesso direto ao médico patologista, este pode ser contatado a qualquer momento, pois o telefone do laboratório onde foi feito o diagnóstico está no laudo e o médico patologista pode conversar com os pacientes e esclarecer dúvidas. Mais do que isso, o médico patologista está sempre cuidando para que seu diagnóstico seja correto e adequado. Os médicos patologistas não aparecem nos hospitais, mas é quem cuida para que seu tratamento seja correto.”

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O APRIMORAMENTO DE TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO DE PEÇAS

O APRIMORAMENTO DE TÉCNICAS DE CONSERVAÇÃO DE PEÇAS ANATÔMICAS:
A TÉCNICA INOVADORA DE PLASTINAÇÃO

Audrey Tescarolo Andreoli; Hariebner Ferreira da Silva; Henrique Seren; Gabriel Pádua da Silva
Centro de Estudo e Pesquisa do Desenvolvimento Regional do UNIFAFIBE – Centro Universitário – Bebedouro SP
audreyandreoli@hotmail.com

Resumo: A anatomia humana é a ciência que estuda a morfologia do corpo humano, estando encarregada de nomear e descrever as estruturas constituintes no nível macroscópico e microscópico. O objetivo teve como principal direcionamento, conhecimento de novas técnicas de preservação de peças anatômicas, demonstrando uma técnica inovadora, visando otimizar estudos anatômicos práticos. Foi realizado um
levantamento bibliográfico nas bases de Scielo, Lilacs, PubMed, e Livros de Anatomia dos anos de (1998-2012). A partir de 1977 uma nova técnica de preparação de peças anatômicas foi desenvolvida, onde Gunther Von Hagens criou e desenvolveu o processo batizado por ele de plastinação, que consiste numa forma moderna de mumificação fazendo com que os corpos tenham uma alta durabilidade.

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Revista EPeQ/Fafibe on-line, 4ª edição, 2012 82

INTRODUÇÃO
 A anatomia humana é a ciência que estuda a morfologia do corpo humano, estando encarregada de nomear e descrever suas estruturas constituintes no nível macroscópico e microscópico. O interesse inicial na anatomia humana provavelmente surgiu entre os canibais, cujos motivos foram principalmente de natureza ritual. Eles acreditavam que ao consumir seus inimigos eles poderia absorver sua força. Nas primeiras civilizações avançadas, procedimentos foram desenvolvidos para a imortalização corpos de pelo menos os mortos-no quando o falecido tinha sido pessoas de importância. Preservar cadáveres inteiros desta forma foi conhecido em muitas culturas. O exemplo mais famoso é o das múmias de antigos faraós egípcios e outros
dignitários, cujo eviscerado corpos tinham sido tratados com perfumado resinas e bicarbonato de sódio, e em seguida secou-se, o que era permitir que o falecido para viver após a morte. Porém, as técnicas de preservação foram se atualizando com a Medicina. Uma mudança de atitude em relação ao ensino de anatomia primeiro apareceu no final da Idade Média, quando os artistas em particular começaram a
investigar a estrutura do corpo humano.

OBJETIVO
 O objetivo teve como principal direcionamento, conhecimento de novas técnicas de preservação de peças anatômicas, demonstrando uma técnica inovadora, visando otimizar estudos anatômicos práticos.

METODOLOGIA
 Foi realizado um levantamento bibliográfico, na temática histórica da anatomia e conservação de peças desde a antiguidade até a atualidade, nas bases de Scielo, Lilacs, PubMed, e Livros de Anatomia dos anos de (1998-2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
 Hoje, o artista mais conhecido e cientista da época é Leonardo da Vinci (1452-1519), que em particular realizada dissecções anatômicas de cadáveres humanos. Estes formaram a base para seu famoso, altamente detalhados esboços anatômicos. Pela primeira vez, ele deu realista, corretamente proporcionado ilustrações do interior do corpo, mesmo que os detalhes de seus desenhos eram muitas vezes incorreta. Leonardo
da Vinci trabalho fez uma contribuição significativa para a aceitação da sociedade de  estudar os corpos humanos. Alguns anatomistas do passado dissecavam corpos vivos publicamente, para observar a anatomia em sua melhor forma, funcionante. Com isso, a anatomia foi se aprimorando até atualmente.
 Com o passar do tempo às técnicas de preparação de peças anatômicas foram mudando e foram descobertas formas de conservação das peças anatômicas com a utilização substâncias que impedem a proliferação de microorganismos. As mais comuns são o formaldeído, a glicerina, o álcool etílico e o fenol. O formaldeído é o fixador e conservante mais utilizado, por ser barato e penetrar rapidamente nos tecidos,
porém está sendo desconsiderada pelo seu odor desagradável e deteriozação das peças.
 A partir de 1977 uma nova técnica de preparação de peças anatômicas foi desenvolvida. Essa descoberta foi feita pelo médico e professor da universidade de Heidelberg na Alemanha, Gunther Von Hagens que criou e desenvolveu o processo batizado por ele de plastinação, que consiste numa forma moderna de mumificação fazendo com que os corpos tenham uma alta durabilidade. Cerca de 70% dos nossos
corpos consistem de fluidos. Eles são indispensáveis tanto para a vida e para a decomposição. Com plastinação, fluidos em nosso tecido são substituídos por reativa plásticos, tais como borracha de silicone, resina de epóxi ou de poliéster resina, em especial um processo de vácuo.
 Quando uma pessoa morre, as próprias enzimas celulares começam a fazer a decomposição do corpo. Para evitar que isso aconteça, os cadáveres são embebidos em formaldeído (formol) que além de estabilizar o tecido, previne o auto-extermínio das células. Ao retirar o corpo da banheira de formol, os plastinadores precisam decidir logo a pose que darão ao corpo ao final do processo. Se quiserem mostrá-lo sem a pele é
nesse momento que ela deve ser retirada. O próximo passo é desidratar o corpo para evitar o ataque de bactérias, por isso o corpo é imerso em uma banheira cheia de acetona. Por difusão a água presente nas células passa para o meio mais concentrado que é a acetona e se dilui. Logo a acetona vai substituir a água estando presente em 99% do corpo. A acetona é então substituída por uma solução de materiais plásticos. Para isso o corpo é colocado em uma câmara de vácuo, que tem a pressão reduzida, e fica condicionado lá até a acetona evaporar. O espaço vazio deixado nas células é preenchido gradualmente por materiais plásticos, onde esse processo pode levar de semanas até meses. Com todas as células preenchidas com os materiais plásticos, está na hora de moldar o corpo, pois o corpo já está preservado, mas não enrijecido. Para que o corpo fique na posição desejada os plastinadores usam cordas, barbantes, agulhas e blocos. Esse processo é realizado com muito cuidado para não estourar nenhum músculo ou articulação. Para secar o corpo é tratado com gás, luz ou calor que vai depender de qual material plástico foi utilizado. Em alguns dias o material endurece e a peça fica seca ao toque e adquiri uma maior rigidez. Contudo ela só ficará realmente seca após alguns meses. E, por fim, são feitos alguns retoques e o corpo ganha olhos de
vidro. Se necessário pode ser pintado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Porém, mesmo que o processo seja altamente delicado, prolongado e complexo, ainda a comprovação de que pode ser a melhor forma de conservação de peças anatômica, é válida. Pois, além de ser uma técnica visivelmente inovadora, consiste em vários aspectos benéficos como, principalmente uma durabilidade dita como ilimitada, além de odores inexistente, fácil manuseio e transporte, retoques, além de ter uma vantagem
importante como a aprendizagem mais esclarecedora e qualificada para os estudos anatômicos.

REFERÊNCIAS
[a] – DANGELO, J. G.;FANTTINI,C. A. Anatomia humana sistêmica e segmentar.
3. Ed. São Paulo: Atheneu, 2007.
[b] - FORNAZIERO, C. C.; GIL, C. R. R. Novas tecnologias aplicadas ao ensino da
Anatomia Humana, 2007.
[c] - RODRIGUES, H. Técnicas anatômicas,Vitória, 1998.
[d] - SANTORO, M. T. O alemão Gunther von Hagens causa escândalo com seus
cadáveres “PLASTINADOS”. São Paulo.
[e] - VAN DE GRAFF, K. M. Perspectiva Histórica. Anatomia Humana, Barueri,
2003.
[f] - VEDI, L. Revista mundo Estranho. Edição 91.

O Laboratório de Plastinção

O Laboratório de Plastinção

aaaA plastinação mediante a utilização de resinas epoxi pode preservar espécimes submetidos a secções de espessura entre 1 e 10mm.
aaaApós a desidratação, degorduramento e a   impregnação forçada dos cortes, por exemplo,   secções totais do corpo humano, são submetidas ao     processo de cura do polímero, efetuado com o   espécime acondicionado em placas de vidro,   denominada câmara plana.
aaaEstes preparados são particularmente úteis porque   apresentam a vantagem de dispor as estruturas       anatômicas respeitando-se suas características       topográficas. Graças ao alto grau de preservação que   o método confere, é possível proceder a estudos   posteriores que envolvam técnicas histológicas de   microscopia de luz ou eletrônica. Estas características explicam e justificam a potencialidade da utilização do método de plstinação em atividades de ensino e pesquisa.
aaaO laboratório foi instalado na Faculdade de Medicina, no primeiro andar, área física atual da disciplina de Topografia Estrutural Humana em 1991. Ocupa duas salas adjacentes, uma indicada para elaboração das fases do preparo do cadáver, para obtenção dos cortes e a seqüência dos processos de desidratação e degorduramento e outra destinada para a etapa de impregnação forçada, preparação de câmaras planas, curagem do polímero e polimento das placas.

Plastinação

O alemão Gunther von Hagens causa escândalo
com seus cadáveres “PLASTINADOS”

Em abril de 2000, no caderno “Mais!”, da “Folha de S. Paulo”, publiquei a matéria “As formas da morte”, que divulgava e explicava a “plastinação”, uma nova técnica para a conservação de cadáveres desenvolvida há algumas décadas pelo anatomista alemão Gunther von Hagens, no Instituto de Anatomia de Heidelberg, na Alemanha. Através desse método, von Hagens substitui substâncias orgânicas de corpos mortos por materiais plásticos (silicone, resina de epóxi e poliéster), o que permite que os materiais molhados do corpo adquiram plasticidade, ou seja, permaneçam maleáveis, inodoros e secos.

Sem sombra de dúvida, Von Hagens teve uma grande idéia: o desenvolvimento de uma técnica de conservação que permite o estudo macrocósmico de cadáveres sem os incômodos odores ou as mudanças de tonalidade dos tecidos, normalmente produzidas pelas químicas de conservação tradicionais. Os estudos anátomo-científicos do corpo humano puderam ser, então, mais didáticos e esclarecedores.



Uma outra inovação, apontada naquele artigo, foi a introdução do público leigo nesse circuito científico, pois von Hagens decidiu transformar tal material de estudo em peças de exposições, organizadas sob o título de “Mundos do corpo”.
A primeira exposição, em 1995, aconteceu no Japão, atraindo milhares de visitantes. Na Europa, a inauguração de “Mundos do corpo” deu-se em 1997, em Mannheim, também superando a previsão de sucesso em número de visitantes. Desde essa época, as exposições já computaram o recorde de mais de 13 milhões de visitantes, a maioria atraída pelo fascínio que a visão do cadáver provoca e pela curiosidade de conhecer-se para além da superfície da pele.
Depois de visitar, em 2000, a exposição em Colônia, na Alemanha, e de uma entrevista com o anatomista, escrevi: “Mais do que uma aula de anatomia, o resultado produzido pelo trabalho do médico alemão é uma dessacralização ou ressacralização do corpo humano e, também, segundo ele, uma tentativa de democratização de suas formas e funções.
Para o visitante leigo, o efeito é assustador. Rostos curiosos, impressionados, passeiam pelo grande salão onde estão expostas mais de 200 peças, entre elas corpos fatiados nas suas extensões horizontal e vertical e órgãos sadios e doentes, que são mostrados em detalhes, com suas transparências, aberturas e plasticidades”.


Ao que parece, Von Hagens havia descoberto não só uma nova técnica de sucesso no embalsamento de cadáveres, mas também uma mina de ouro, já que, além do valor do ingresso das exposições de corpos, o anatomista recebe por um corpo embalsamado por plastinação 75.000 euros, ou seja, aproximadamente R$ 280 mil.
E, assim como choveram euros, começaram a chover também as críticas e as discussões sobre os cadáveres e as exposições, a começar pelas éticas e religiosas.
Rompendo as barreiras de um universo científico e artístico ao expor o cadáver como obra de arte, o anatomista se torna mais radical quando, em novembro de 2002, em Londres, realizou, na London´s Atlantis Gallery, a primeira autópsia pública, uma polêmica apresentação para cerca de 500 pessoas. Acusado de ser um show controverso e ilegal, Von Hagens, na época, se defendeu, alegando que o que faz é em nome de uma democratização da anatomia, ou seja, ele populariza uma prática usada nas escolas.


Uma outra leitura do trabalho do anatomista é a de que ele se transformou em um caso de polícia. Trata-se de uma denúncia feita pela revista alemã “Der Spiegel”, em 19 de janeiro de 2004, na forma de um artigo de 12 páginas com o seguinte título: “Dr. Morte. Os negócios macabros do expositor de cadáveres Gunther von Hagens”. O artigo acusava o anatomista de não deixar claras as regras desse trabalho, ou seja, a proveniência do material que usa e como constrói/esculpe os corpos. A matéria de capa de “Der Spiegel” denunciava o contrabando, o uso indevido e a comercialização inescrupulosa de corpos humanos feitas pelo médico alemão em nome de suas exposições artísticas de cadáveres, atualmente em dupla exibição, em Frankfurt e Cingapura.

Apresentando fotos que mostram empregados manipulando cadáveres em Dalian, na China, segundo a revista, “uma de suas três fábricas de cadáveres” (as outras duas são em Heidelberg, na Alemanha, e em Bischkek, também na China), citando documentos que foram levantados ao longo de uma pesquisa feita pela revista, bem como documentando através de extratos bancários e de declarações do anatomista e de seus empregados, a matéria acusava Von Hagens de construir um “autêntico mercado de cadáveres humanos, que funciona sob as mais simples regras do capitalismo: a compra de matéria-prima barata, seu manufaturamento a custos favoráveis e sua lucrativa comercialização”.
Traduzindo em cadáveres, segundo “Der Spiegel”, em documento levantado em novembro de 2003, “são 647 corpos completos”.
Além disso, o documento “afirma que foram enumeradas 3909 partes de corpos, como pernas, mãos ou pênis, e que foram catalogados 182 fetos, embriões e recém-nascidos, com números de série, tamanho, altura e sexo”.
À pergunta de onde vêm os cadáveres ou suas partes?, a revista respondia: “Gunther von Hagens não trabalha só com as doações de corpos, ele toma os corpos que consegue”. A matéria prosseguia, acusando esse “especulador de mortos” de comercializar, a baixos custos, além dos corpos doados, cadáveres de prisioneiros chineses executados em um campo militar perto de sua fábrica em Dalian. O artigo ainda acusava von Hagens de enganar os visitantes de suas exposições que acreditavam estar observando um verdadeiro e completo cadáver e assim estar sendo esclarecidos sobre seu próprio corpo. Segundo “Der Spiegel”, nada mais falso!


A revista descrevia que esse Dr. Frankenstein moderno, como em uma linha de montagem, vai tirando das prateleiras de suas fábricas pernas, braços e outras partes e órgãos mais perfeitos ou adequados para substituir aqueles defeituosos, pequenos ou pouco musculosos do cadáver que está montando.
Mostrando como funciona a cozinha de von Hagens, “Der Spiegel” escreveu que “até a ‘qualidade’ do cadáver é minuciosamente registrada. Cadáver nº 03MI0077 serve, por exemplo, somente como matéria bruta; para esse ‘corpo masculino inteiro’, com altura de 1,66 metro, foi verificado: ‘falta do olho esquerdo, pés e mãos danificados’. Por outro lado, foi registrado como material de primeira qualidade o cadáver 03FI093: feminino, altura de 1,67 metro, bons músculos, origem européia. Adequado para exposição”.
O artigo terminava com a profética visão von-hageniana de que o mundo só reconhecerá a grandiosidade de seu trabalho após sua morte e sua própria plastinação.



De vida e de morte
Aquilo que o anatomista Gunther von Hagens faz, “a plastinação de corpos humanos mortos”, pode ser observado sob um duplo ponto de vista.
Por um lado, tal procedimento revela-nos um pouco da problemática relação do homem com a vida, com seus mecanismos e com sua história. Por trás dessa nova tecnologia está um poder biológico, um domínio da vida, do corpo e de seu conhecimento que aparece no mundo ocidental já no século XVIII. Segundo Michel Foucault (“Direito de morte e poder sobre a vida”, em “História da Sexualidade”, 1988, Ed. Graal), esse foi um movimento de transformação ligado ao desenvolvimento do capitalismo. Trata-se do desenvolvimento de um poder-saber científico que transforma a vida e a perspectiva por onde se olha a vida e, conseqüentemente, a morte.
Através dos efeitos operados por esse conhecimento, entre eles uma reclassificação da vida e do corpo, ou um poder-saber sobre o corpo e a vida, observa-se como a ciência se apropria dos direitos sobre o corpo e a vida, subvertendo os antigos e tradicionais sistemas que a controlavam, como, por exemplo, aquele poder exercido, no passado, pelas áreas jurídica, religiosa, ou estadual, entre outras.

Tal domínio possibilita que o corpo possa ser hoje conhecido tal como é ou como se quer que ele seja. Isso significa que atualmente exerce-se uma soberania sobre o que é ou pode ser o corpo e a vida, que pode ser espelhada nas novas biotecnologias desenvolvidas para a conservação e o cuidado do corpo, da vida, da morte, bem como para a criação ou a transformação da vida.

Assim, o processo de plastinação de cadáveres de Gunther von Hagens também traduz esse atual momento de domínio que o homem faz de seu e de outros corpos, da vida e da morte. As novas possibilidades de leitura e manipulação do corpo (do vivo e do morto) parece ser um fenômeno global, que todos nós, em diferentes contextos, fazemos, procuramos conhecer e consumimos.
Tecnologias de transformação do corpo, como as desenvolvidas pela cirurgia plástica, de substituição de órgãos ou partes do corpo, como as empreendidas nos transplantes, nas inserções protéticas, ou o conhecimento biogenético e farmacológico que permite o controle e a criação artificial de vida ou seu prolongamento são outros exemplos do momento histórico que construímos e que vivemos.

Esse mesmo processo de manipulação do corpo e da vida, que está na ciência e na tecnologia por ela criada, promove, por outro lado, a transformação desse corpo em um objeto, em uma coisa ou mercadoria, na medida em que o corpo se transforma em matéria que consome a si mesma e que é consumida: os cadáveres “plastinados” pelo dr. von Hagens, por exemplo, expostos em museus, foram concebidos para, além de possibilitarem um estudo macrocósmico do corpo humano, serem consumidos enquanto imagem e vendidos como mercadoria. Afinal, o grande número de visitantes das exposições de cadáveres aponta que estamos lotando os museus, que queremos nos ver do avesso, ou que temos algum fascínio pelo mórbido ou pelo grotesco.
Dito de outra maneira, aquilo que, segundo Foucault, era objeto de saber para a análise clínica de muitas doenças, ou seja, o cadáver, transformou-se, nas exposições “Mundos do corpo”, em um show, ou em um caro e bizarro objeto de consumo.

Mas, “Mundos do corpo”, segundo a revista alemã, aponta para uma outra constatação: a de que esses cadáveres foram secretamente montados. Significa que o que Von Hagens apresenta como uma “democratização da anatomia”, ou seja, como um estudo científico e anatômico do corpo humano, é uma montagem, pois se trata de um objeto feito da soma de partes de corpos humanos, unilateralmente definidas por ele para agradar ao público. Essa manipulação do corpo humano levanta uma questão ética, a dos riscos do uso indevido desse corpo, e uma questão legal, que é a sua comercialização -problemas que a matéria publicada em “Der Spiegel” denuncia e recrimina.
Apontada a falsificação, o jornal “Frankfurter Allgemeine” publicou, em 28 de janeiro último, um esclarecimento dos professores do Instituto de Anatomia da Universidade de Heidelberg, que se manifestaram estarem distanciados do projeto de exposição de cadáveres, alegando que o que Von Hagens apresenta está longe de ser uma didática e aceitável informação. Segundo a matéria, “aquelas pessoas que procuram a exposição por terem de fato interesse na anatomia humana, pagam para serem enganadas”.


Uma vez que os valores éticos de uma civilização são construções determinadas pelo tempo, pela cultura, por hábitos e crenças, está claro que um redimensionamento das idéias de corpo, de vida e de morte vem acontecendo, juntamente, com o dos valores éticos e morais que os acompanham.
Assim, apesar da oportuna inovação tecnológica e da arrojada ampliação que faz do conhecimento anatômico do corpo humano, expandindo seus domínios para a arte e para o público leigo, parece que o maior problema de Von Hagens tem sido não revelar o histórico do restauro dos cadáveres, não ter deixado claras as regras de procedência e construção dos corpos, fazendo com que a idéia da exposição de cadáveres restrinja-se à idéia do espetáculo e à concepção de um grande negócio, dada nossa fascinação por nós mesmos.



Texto de:
Maria Teresa Santoro
Doutora em comunicação e semiótica pela Universidade Técnica de Berlim e professora de comunicação e linguagem na Universidade São Judas Tadeu (SP). 

domingo, 24 de novembro de 2013

Como os vermes entram no caixão???

As bactérias encarregadas da putrefação do cadáver na sua maioria, são as mesmas que, em vida, formam a flora intestinal do indivíduo. 

Algumas das substâncias intermediárias formadas durante o processo de decomposição das proteínas, são altamente fétidas, tornando-se as responsáveis pelo cheiro característico dos corpos em putrefação. 

Este processo de decomposição paulatina, é bastante lento. As larvas de insetos todas com atividade necrofágica, se deixadas agir livremente, podem destruir o cadáver em um tempo bem menor: de 4 a 8 semanas. 

Com efeito, em um cadáver exposto à intempérie, a putrefação se vê acelerada, sendo certo que os corpos enterrados, têm a sua decomposição retardada até em oito vezes, com relação aos primeiros. 

Fases da putrefação. A putrefação se desenvolve em quatro fases ou períodos distintos e consecutivos, a saber: 

1º - Período cromático (período de coloração, período das manchas). Tem início, em geral de 18 a 24 horas após o óbito, com uma duração aproximada de 7 a 12 dias, dependendo das condições climáticas. Inicia-se pelo aparecimento de uma mancha esverdeada na pele da fossa ilíaca direita (mancha verde abdominal), cuja cor é devida à presença de sulfometahemoglobina. Nos recém-nascidos e nos afogados, a mancha verde é torácica e não abdominal. 

2º - Período enfisematoso (período gasoso, período deformativo). Inicia-se durante a primeira semana e se estende, aproximadamente, por 30 dias. Os gases produzidos pela putrefação (notadamente gás sulfídrico, hidrogênio fosforado e amônia) infiltram o tecido celular subcutâneo modificando, progressivamente, a fisionomia e a forma externa do corpo. Esta distensão gasosa é mais evidente no abdome e nas regiões dotadas de tecidos areolares como face, pescoço, mamas e genitais externos. 

3º - Período coliquativo (período de redução dos tecidos). Inicia-se no fim do primeiro mês e pode estender-se por meses ou até 2 ou 3 anos. Caracteriza-se pelo amolecimento e desintegração dos tecidos, que se transformam em uma massa pastosa, semilíquida, escura e de intensa fetidez, que recebe o nome de putrilagem. 

A atividade das larvas da fauna cadavérica (miase cadavérica), auxilia grandemente na destruição total dos restos de matéria. Como mencionado, os insetos e suas larvas podem destruir a matéria orgânica do cadáver com extrema rapidez (4 a 8 semanas). 

4º - Período de esqueletização. No final do período coliquativo, a putrilagem acaba por secar, desfazendo-se em pó. Desta maneira, exsurge o esqueleto ósseo, que fica descoberto e poderá conservar-se por longo tempo. 

Putrefação Cadavérica

Durante a putrefação do cadáver, alguns fenômenos ocorrem e, didaticamente denominam-se:

Fenômenos abióticos imediatos
  • Perda da consciência
  • Insensibilidade geral e dos sentidos
  • Imobilidade e abolição total do tônus muscular
    • máscara da morte (fácies hipocrática = moribundo)
    • inércia
    • relaxamento esfinctérico
    • midríase (dilatação pupilar)
  • Cessação da respiração
  • Cessação da circulação
    • ausculta cardíaca – Prova de Bouchut
    • radioscopia do coração - Sinal de Piga
    • eletrocardiografia com ou sem ativação adrenalínica - Prova de Guérin e Frache
    • globo ocular
    • esvaziamento da artéria central da retina
    • interrupção da coluna sangüínea das veias retinianas
    • descoramento da coróide
    • parada completa da rede superficial da retina

Fenômenos abióticos consecutivos

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 Opacificação da córnea. 

  • Instalam-se a partir da morte
  • Indicam a realidade da morte


  • Desidratação cadavérica
    • perda de peso
      • fetos e recém-nascidos - até 8g/Kg/dia - nas primeiras horas até 18 g/Kg/dia
    • pergaminhamento da pele
      • dessecação cutânea
      • endurecimento cutâneo
      • tonalidade pardacenta ou parda-avermelhada
      • estrias decorrentes de arborizações vasculares
    • dessecamento labial e mucoso
      • mais intenso em recém-nascidos e crianças
      • lábios se tornam duros e pardacentos
      • pode simular ações traumáticas ou cáusticas
    • modificação dos globos oculares
      • tela viscosa - sinal de Stenon-Louis
      • diminuição ou perda da tensão do globo ocular - Sinal de Louis
      • turvação da córnea transparente
      • mancha negra da esclerótica - livor sclerotinae nigricencens - Sinal de Sommer e Larcher
      • mancha de cor enegrecida devido à transparência do pigmento coroidiano
        circular ou oval, raramente triangular. no quadrante externo do olho
      • após 8 horas da morte, deformação da íris e pupila à pressão digital - Sinal de Ripault
    Algor Mortis - Resfriamento corporal
    • tendência ao equilíbrio com o meio ambiente, progressivo e não uniforme
    • esfriamento médio de 1,5º/h
    • alterações na velocidade do resfriamento
      • mais lento
        • obesos
        • envoltos em roupas ou cobertores
        • ambientes fechados ou sem circulação de ar
        • vítimas de insolacão, intermação, envenenamento e doenças infecciosas agudas
      • mais rápido
        • crianças e velhos
        • doenças crônicas e grandes hemorragias
    • termômetro retal
      • Necrômetro de Bouchut
      • Tanatômetro de Nasse
      • introduzido 10cm


    Livor Mortis

    ver catálogo
     Livores de hipostase em dorso.
Óbito por estrangulamento.  Livor de hipostase em cadáver que permaneceu em decúbito ventral.  Livor de hipostase em cadáver que permaneceu em decúbito ventral.  Livores de hipostase no dorso.  Livores de hipostase em enforcado.  Livores de hipostase em disparo encostado.
    • Modalidades
      • Manchas de hipóstase cutâneas
      • Livores viscerais
        • pulmões
        • fígado   
        • rins
        • baço
        • intestinos
        • encéfalo
    • fenômenos constantes - exceção em grandes hemorragias
    • regiões inferiores do cadáver exceto regiões de pressão - exceção: livores paradoxos
    • forma de placas - exceção: púrpuras hipostáticas
    • mecanismo
      • parada da circulação
      • ação da gravidade
      • acúmulo sanguíneo intravascular nas partes mais baixas do corpo - exceção: regiões de pressão
      • início em algumas regiões que se coalecem
    • coloração
      • regra: violácea
      • exceções
        • asfixia por monóxido de carbono - vermelho, róseas ou carminadas
        • envenenamento metahemoglobinizantes - marrom-escuro
    • cronologia
      • aparecimento: 2 a 3 horas após a morte
      • fixação 8 a 12 horas
        • permanece na mesma posição caso se vire o cadáver
        • permite diagnóstico de alteração da cena do crime
    • pessoas de cor negra os livores podem não ser evidenciados
      •  colorímetro de Nutting - espectroscópio de colimador espectral e de luneta ocular
    • diagnóstico diferencial com equimose
      • incisar e perceber que o livor flui


    Rigor Mortis
    • Mecanismo
      • após a morte: um relaxamento muscular generalizado
      • hipóxia celular
      • não formação de ATP
      • alteração da permeabilidade das membranas celulares
      • formação de actomiosina
      • ação da glicólise anaeróbica
      • acúmulo de ácido láctico
    • Ordem de aparecimento - Lei de Nysten – Sommer
      • face, mandíbula e pescoço
      • membros superiores e tronco
      • membros inferiores
      • desaparecimento na mesma ordem
    • Cronologia
      • aparecimento - 1 a 2 horas após a morte
      • grau máximo - 8 horas
      • desfazimento - 24 h
        • início da putrefação
          • coagulação das albuminas
          • acidificação
          • quebra do sistema coloidal


    Espasmo cadavérico
    • fenômeno controverso e raro
    • manutenção da última posição da vítima antes de morrer
    • se mantém até a instalação da rigidez muscular

    Fenômenos abióticos transformativos

    Destrutivos

    Conservadores



    Fenômenos abióticos transformativos destrutivos
    • destrutivos
      • autólise
      • putrefação
      • maceração
    • conservadores
      • mumificação
      • saponificação
      • calcificação
      • corificação


    Autólise
    • Fenômenos putrefativos anaeróbicos intracelulares
    • Mecanismo
      • Diminuição da oxigenação e nutrição celular
      • Metabolismo anaeróbico
      • Acúmulo de ácido lático - Acidificação - diminuição do Ph
      • Rompimento de organelas citoplasmáticas - lisossomos
      • Liberação de enzimas proteolíticas
      • Processo sem participação bacteriana
    • Células mais afetadas - as que possuem mais enzimas
      • mucosa gástrica
      • mucosa intestinal
      • pâncreas
    • Fases
      • Latente - alterações citoplasmáticas
      • Necrose - alterações nucleares


    Putrefação
    • Mancha verde abdominal
      • Primeiro local da fase de coloração
      • Fossa ilíaca direita
        • o ceco é a parte mais dilatada e livre
        • maior acúmulo de gases
        • proximidade com a parede abdominal
        • concentração de bactérias
      • Cronologia do aparecimento
        • verão - 18 a 24hs
        • inverno -  36 a 48
      • Mecanismo e evolução
        • atividade bacteriana - Clostrídium welchii
        • formação de metano, gás carbônico, amônia e mercaptanos, gás sulfídrico
        • gás sulfídrico + hemoglobina = sulfohemoglobina ou sulfometahemoglobina = verde
        • progressão por todo o corpo
        • escurecimento progressivo - verde enegrecido a negro
    • A cabeça fica muito negra
    • Pigmentação intra-abdominal por pigmento biliar
    • Enegrecimento de parte das vísceras maciças em contato com o intestino grosso
    • Nos fetos
      • início pela parte superior do tórax, face e pescoço
        • conteúdo intestinal estéril
        • bactérias nas vias aéreas
    • Nos afogados
      • cabeça e parte superior do tórax
        • posição do cadáver com a cabeça para baixo


    Fase gasosa

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      Circulação póstuma de Brouardel.  Radiografia do polo cefálico de cadáver na fase gasosada purefação.
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Imagem trabalhada para realçar o aumento de partes moles.  Radiografia do polo cefálico de cadáver na fase gasosada purefação.  Bolha sub-epidérmica com conteúdo hemoglobínico.  Bolha sub-epidérmica com conteúdo hemoglobínico.
Circulação póstuma de Brouardel.  Fase gasosa da purefação.
  Fase gasosa da purefação.
  Circulação póstuma em cadáver de cerca de 72 horas do óbito.  Início da fase gasosa.
Descolamento epidérmico com gás em seu interior.
  Fase inicial da circulação póstuma de Brouardel.
    • Cronologia
      • perceptibilidade - 48 a 72 horas
      • grau máximo - 5 a 7 dias
    • Mecanismo
      • ação de bactérias saprófitas
        • Formação de gases da putrefação - inflamáveis
      • decomposição protéica
        • liberação de compostos nitrogenados - ptomaínas (odor desagradabilíssimo)
    • Aumento da pressão abdominal
      • prolapso do útero - eventual parto post-mortem
      • prolapso do reto
      • elevação do diafragma
        • compressão pulmonar - saída de líquido avermelhado pela boca e narinas
          • sangue proveniente do rompimento alveolar
    • Superfície
      • destacamento total da epiderme
      • perda de fâneros
      • bolhas epidérmicas de conteúdo líquido hemoglobínico - baixo teor protéico
      • circulação póstuma de Brouardel
        • pressão sobre grandes vasos
          • escoamento passivo do sangue periferia
          • destacamento da epiderme
          • coloração escura do sangue
          • 36 e 48 horas após a morte
    • Aspecto gigantesco
      • protusão ocular
      • protusão lingual
      • distensão dos órgãos genitais masculinos
      • posição de lutador
    • Vísceras maciças
      • amolecimento
      • superfície de corte com numerosas pequenas cavidades - queijo suíço
    • Coração
      • amolecido, pardo, com creptação
    • Pulmões
      • colabados - pardos escuros ou cinza enegrecido
      • cavidades pleurais - até 200 ml. de líquido pardo-escuro
    • Cérebro
      • perda da estrutura - "derretimento"
      • massa pegajosa cinza escura


    Fase de coloração

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     Mancha verde abdominal. Óbito há 48 horas.  Fase de coloração em evolução.
Cadáver com cerca de 72 do óbito.
    • Mancha verde abdominal
      • Primeiro local da fase de coloração
      • Fossa ilíaca direita
        • o ceco é a parte mais dilatada e livre
        • maior acúmulo de gases
        • proximidade com a parede abdominal
        • concentração de bactérias
      • Cronologia do aparecimento
        • verão - 18 a 24hs
        • inverno -  36 a 48
      • Mecanismo e evolução
        • atividade bacteriana - Clostrídium welchii
        • formação de metano, gás carbônico, amônia e mercaptanos, gás sulfídrico
        • gás sulfídrico + hemoglobina = sulfohemoglobina ou sulfometahemoglobina = verde
        • progressão por todo o corpo
        • escurecimento progressivo - verde enegrecido a negro
    • A cabeça fica muito negra
    • Pigmentação intra-abdominal por pigmento biliar
    • Enegrecimento de parte das vísceras maciças em contato com o intestino grosso
    • Nos fetos
      • início pela parte superior do tórax, face e pescoço
        • conteúdo intestinal estéril
        • bactérias nas vias aéreas
    • Nos afogados
      • cabeça e parte superior do tórax
        • posição do cadáver com a cabeça para baixo


    Fase coliquativa

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                 Apesar da putrefação, é possível visualizar a cicatriz abdominal mediana e o fio de sutura azulado. <img src="grade_ico_p.gif">  (I4 e J3)
    • Dissolução pútrida do cadáver - deliqüescência cadavérica
    • Desintegração de partes moles
      • redução do volume
      • deformação
      • liberação dos gases
    • Inúmeras larvas
    • Cronologia
      • extremamente variável
        • início - 3 semanas após o óbito
        • término - vários meses


    Fase de esqueletização

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     Dentição de cadáver inumado por mais de 30 anos.
    • Fase que se mescla à coliquativa
    • Final do processo destrutivo cadavérico
    • Resultado final é o esqueleto livre de partes moles
    • Cronologia muito variável
      • início - terceira a quarta semana
      • término - seis meses
      • fatores
        • clima
        • ambiente (+ fauna cadavérica)
          • ar livre
          • inumação
          • submersão


    Maceração

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     Maceração fetal intra-uterina.  Maceração fetal intra-uterina.
    • Asséptica
      • fetos mortos retidos, a partir do 5º mês de gestação
        • fetos mais precoces podem ser reabsorvidos, mumificados ou calcificados
    • Séptica
      • fetos intra-uterinos de cadáveres
      • alguns autores incluem a putrefação sob imersão
    • Cronologia
      • poucas horas após a morte fetal
        • menor aderência epidérmica
      • 3 a 5 dias
        • formação de bolhas epidérmicas com líquido avermelhado
        • coalescência das bolhas
        • destacamento cutâneo
        • derme avermelhada exposta
        • destacamento do couro cabeludo
      • Evolução
        • diminuição da consistência corporal
        • achatamento ventral
        • descolamento dos ossos dos tecidos
        • grande possibilidade de contaminação
      • Tabela de F.A. Laugley
        • grau 0 - m < 8 horas
          • pele com aspecto bolhoso
        • grau 1 - 8 < m < 24 horas
          • epiderme começa a descolar
        • grau 2 - m > 24 horas
          • extenso descolamento epidérmico - efusões avermelhadas em cavidades
        • grau 3 - m > 48 horas
          • fígado amarelo-amarronzado, efusões turvas


    Fenômenos abióticos transformativos conservadores
    Adipocera

    Mumificação

    Courificação

    Adipocera - saponificação
    • Fenômeno conservador transformativo raro
    • Aspecto de cera
      • consistência untuosa, mole e quebradiça
      • cheiro rançoso adocicado
      • coloração amarelado, róseo ou acinzentado
    • Cronologia
      • pode surgir após a primeira semana
      • perceptível aos 3 meses (GVF:  6ª semana)
      • Aparece após estágio relativamente avançado de putrefação
        • necessidade ação bacteriana (principalmente do gênero Clostridium)
          • hidrólise de gorduras neutras (triglicerídio) para a liberação de ácidos graxos
          • transformação do ácido oléico em hidroxiesteárico e oxiesteárico
    • Geralmente limitado a algumas partes do cadáver
    • Predisponentes
      • obesos
      • água estagnada e pouco corrente
      • solo argiloso e úmido
      • difícil acesso ao ar atmosférico
      • comum em valas comuns


    Mumificação
    • Meio quente, arejado e seco
      • inviabilidade bacteriana
        • desidratação
          • rápida
          • intensa
    • Mais comum
      • magros
      • crianças
    • Exame
      • peso e volume reduzidos
      • pele
        • ondulada
        • endurecida
        • aspecto de couro
        • coloração parda
        • soa como cartão ao toque
      • Às vezes parcial
        • segmentos, em geral os de menor diâmetro: mãos e pés
    • Pode possibilitar
      • exame de lesões
      • identificação


    Corificação

        
    • Extremamente raro

    •   
    • Relatado por  Della Volta em 1985

            
      • cadáveres recolhidos em ataúdes metálicos herméticos, principalmente de zinco

                
        • pele de cor e aspecto do couro curtido recentemente

        •       
        • abdome achatado e deprimido

        •       
        • musculatura e tecido subcutâneo preservados

        •       
        • líquido viscoso e turvo castanho-amarelado na urna

        •       
        • órgãos amolecidos e conservados

                    
          • possibilidade de exames histopatológicos

          •         
          • possibilidade de exames toxicológicos

          •     

    Calcificação
    • Fenômeno conservador muito raro
    • Petrificação ou calcificação corporal
    • Forma intra-uterina
      • forma mais comum
      • ocorre na morte fetal retida
        • litopédios - criança de pedra
    • Forma extra-uterina
      • raríssimo
      • mecanismo
        • putrefação muito rápida
        • assimilação de sais calcários pelo esqueleto
        • resultado de aparência pétrea e grande peso - (fóssil)



    Morte humana e decomposição

    Morte humana e decomposição

    A fim de compreender como as fazendas de corpos funcionam, é interessante saber alguns dados básicos sobre a morte humana e a decomposição. Embora soe bastante macabro, é perfeitamente normal que o corpo passe por diversas mudanças radicais quando a pessoa morre.
    Para começar, quando o coração pára de bater, as células do corpo e os tecidos param de receber oxigênio. As células cerebrais são as primeiras a morrer - normalmente em três a sete minutos (fonte: Macnair). Ossos e células da pele, no entanto, sobrevivem por diversos dias. O sangue começa a ser drenado dos vasos sanguíneos para as partes inferiores do corpo, criando assim uma aparência pálida em alguns lugares e uma aparência mais escura em outros.
    Conforme o corpo se decompõe, os tecidos soltam uma substância esverdeada que desperta o apetite das moscas. O corpo em putrefação pode se tornar o habitat de cerca de 300 larvas sortudas.
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    Conforme o corpo se decompõe, os tecidos soltam uma substância esverdeada que desperta o apetite das moscas. O corpo em putrefação pode se tornar o habitat de cerca de 300 larvas.

    Três horas após a morte, começa o rigor mortis, que é o endurecimento dos músculos. Após 12 horas, o corpo esfria e dentro de 24 horas (dependendo da gordura corporal e das temperaturas externas) perde todo o calor interno em um processo chamado algor mortis. Depois de 36 horas, o tecido corporal começa a perder sua rigidez e, dentro de 72 horas, a rigidez cadavérica diminui.
    Conforme as células morrem, as bactérias dentro do corpo começam a desintegrá-lo. Enzimas no pâncreas fazem com que o órgão se dissolva sozinho. O corpo logo assume uma aparência horrível e começa a cheirar mal. Tecidos em decomposição liberam uma substância esverdeada e gases como metano e sulfeto de hidrogênio. Os pulmões expelem um fluído pela boca e pelo nariz.
    Insetos e animais certamente percebem tais sinais. O corpo humano oferece alimento e é um ótimo lugar para depositarem seus ovos. Uma mosca pode se alimentar bem com um cadáver e depois liberar até 300 ovos sobre ele, gerando cria em um dia.
    life cycle of fly
    Os gusanos - larvas que nascem destes ovos - são extremamente eficientes e carnívoros. Começando pela parte externa do corpo onde nascem as larvas usam ganchos na boca para sugar os fluídos que escorrem do cadáver. Depois de um dia, as larvas entram no segundo estágio de sua vida, cavando para dentro do cadáver.
    Movendo-se em grupo, as larvas se alimentam de carne em putrefação e soltam enzimas que ajudam a tornar o corpo em uma substância pegajosa. O mecanismo de respiração se localiza na extremidade oposta da sua boca, permitindo que coma e respire simultaneamente sem interrupção de tempo. Uma larva em sua fase inicial apresenta 2 milímetros de comprimento, mas quando atinge o terceiro estágio e deixa o corpo como prepupa, pode chegar a 20 milímetros - 10 vezes seu tamanho inicial. Larvas podem consumir mais de 60% do corpo humano em menos de sete dias (fonte:Australian Museum).
    O ambiente no qual o corpo está também afeta seu índice de decomposição. Por exemplo, corpos na água se decompõem duas vezes mais rápido do que aqueles enterrados no solo. Esse processo é mais lento embaixo da terra, especialmente se o corpo estiver em terreno argiloso ou protegido por outra substância sólida que impeça o ar de chegar, uma vez que a maioria das bactérias necessita de oxigênio para sobreviver.
    As unhas e cabelos crescem após a morte?
    Acreditava-se que as unhas e cabelos do cadáver continuavam a crescer. Para o observador casual, poderia até parecer verdade. No entanto, este efeito visual acontece em função do encolhimento da pele, couro cabeludo e cutículas.

    Estimativa de tempo de morte por meio da entomofauna cadavérica em cadáveres putrefeitos:

    Estimativa de tempo de morte por meio da entomofauna cadavérica em cadáveres putrefeitos: 

    Relato de caso

    Adelino Poli Neto, Erika C. Carvalho, Maria Luiza Cavallari, Vitor A. P. Gianvecchio, José Salomão Neto, Marco Antônio Tartarella, Cristina Kanamura, Daniel Romero Muñoz

    introdução
    A estimativa do tempo de morte do cadáver, ou cronotanatognose, tem grande importância para a justiça, 
    tanto na esfera penal quanto na cível. Nas investigações policiais, o conhecimento da hora da morte é fundamental para saber por onde andou e com quem a vítima poderia ter estado antes de morrer. Em varas de sucessão no foro cível, quando há mais de um falecimento, é necessário estabelecer quem morreu primeiro para determinar quem tem direito a herança.Na prática pericial, a determinação da hora da morte é realizada por meio da análise dos fenômenos cadavéricos. Nota-se, porém, na literatura médico-legal, uma grande variabilidade quanto ao tempo de aparecimento destes fenômenos no cadáver. Além disso, os fenômenos cadavéricos podem sofrer influência de fatores externos, como temperatura do ambiente, roupas, local do óbito, e de fatores intrínsecos, como idade, compleição física, causa da morte, etc. Desta 
    maneira, a avaliação da hora em que ocorreu o óbito utilizando apenas a análise destes fenômenos é impossível de ser realizada de forma exata com segurança. Portanto, o intervalo post mortem é habitualmente avaliado em faixas de tempo. Em cadáveres putrefeitos, esta avaliação é ainda mais imprecisa, quase sempre estimada em faixas de dias a semanas, e é realizada com menor margem de segurança. Nesses casos, o método que pode ser utilizado para a determinação do PMI (post morten interval) com maior precisão e segurança é o estudo da entomofauna cadavérica.A Entomologia Forense é a ciência que estuda os insetos, ácaros, aranhas, borboletas e mariposas, formigas e outros artrópodes com a finalidade de auxiliar a justiça. Além da aplicação na determinação do PMI, esse tipo de estudo permite verificar se 
    ocorreu translado do corpo entre regiões urbana e rural, se houve ataque por animais silvestres, no 
    caso de ambientes abertos, ou se o cadáver foi encontrado em ambientes fechados. A estimativa do 
    PMI por meio da entomologia forense baseia-se na comparação de dados sobre o desenvolvimento de 
    insetos, do ovo até a fase adulta, obtidos em análises laboratoriais de material coletado no corpo ou 
    próximo deste quando da sua descoberta, seja ele ovos, larvas, pupas, pupários ou insetos adultos.

    Descrição:
    Mulher de sessenta e nove anos, viúva, foi encontrada em óbito no interior de residência de alvenaria, vestida com blusa e calça do mesmo tecido tipo pijama e corpo coberto com cobertor, já com sinais de putrefação, sendo então encaminhada como morte suspeita ao Instituto Médico Legal (IML) - Equipe de Perícias Médico Legais - Oeste, para exame de corpo de delito (exame necroscópico).
    No exame necroscópico, observaram-se os seguintes fenômenos transformativos destrutivos: 
    mancha verde no corpo todo, cadáver de aspecto gigantesco e deformado, exoftalmia, protrusão da 
    língua e dos órgãos genitais, enfisema subcutâneo, flictenas, destacamento da epiderme e circulação 
    póstuma de Brouardel. Notou-se também a presença de ovos e larvas de animais necrofágos 
    e não havia lesões externas traumáticas.
    No exame interno verificou-se que o encéfalo estava se liquefazendo, as vísceras torácicas e abdominais encontravam-se todas amolecidas, não havia lesões traumáticas e o exame do coração revelou artérias coronárias endurecidas com estreitamento da luz. Concluiu-se que se tratava de uma morte de causa natural, de provável etiologia cardíaca.
    Antes do exame necroscópico, foram coletados ovos na região lateral esquerda do pescoço, que se encontrava ligeiramente flexionado, formando dobras na pele, mantendo o local úmido e escuro, sendo propício para a instalação dos ovos de insetos. Nas vestes da vítima, após minuciosa procura, foram encontradas larvas de terceiro instar para fase de pré-pupa. Os ovos e as larvas foram coletados com pincel e pinça, respectivamente, os ovos foram colocados em placas de Petri com papel de filtro umedecido e as larvas em frascos plásticos, e levados para o Laboratório para serem criados até alcançarem a fase adulta.
    Parte das larvas colhidas foram sacrificadas em laboratório com água a 70ºC para serem pesadas, medidas, e avaliadas quanto à sua fase de desenvolvimento pós período embrionário (3º instar); para desenvolvimento das larvas, foi utilizado viveiro de material plástico, preparado com aproximadamente 10 centímetros de 
    espessura de terra para pupação e coberto com tecido tipo voal. Os ovos eclodidos em 8 horas no laboratório transformaram-se em larvas de 1º instar (fase) e foram alimentados com carne bovina moída em uma proporção de 1g por larva. 
    Com média de peso de 0.0052 g e comprimento de 0,6 cm, após ecdise, transformaram-se em
    larvas de segundo instar, pesando em média 0,0275 g e com comprimento de 1,2 cm; depois da última ecdise, a larva de terceiro instar pesava 0,0321 g e media 1,25 cm. Em seguida, houve a pupação e a transformação em imagos, que foram colhidos e classificados como sendo Muscina stabulans. Essa mosca 
    é semelhante à mosca doméstica, mas um pouco mais robusta. Os adultos entram nos domicílios. As formas imaturas se desenvolvem em fezes humanas e de outros animais, alimentos, frutas em decomposição, cadáveres humanos, carcaças animais, etc. É relacionada com miíase humana. Algumas larvas foram separadas para processamento Anátomo Patológico, técnica histológica, isto é, desidratação em álcool, 
    diafanização em xilol, e preparo em embebimento em parafina. Esta fase foi processada em equipamento programado para levar o material a vários banhos seqüenciais de álcool absoluto (5x), xilol (5x) e parafina (2x). Após o banho de parafina, o material foi retirado do equipamento e incluído em bloco de parafina por meio de um molde apropriado para este fim. Nesta fase do processo, o material deve ser colocado 
    com atenção quanto ao sentido de orientação, para que sejam obtidos cortes dos espiráculos posteriores, que são a estrutura de interesse para fins de classificação (fendas espiraculares), estando voltado para o fundo do molde. O bloco foi então submetido a resfriamento (no freezer) para facilitar o processo de corte em micrótomo rotativo. A partir daqui foram obtidos cortes seriados (3 micrômeros cada) do material, que 
    foram fixados em lâminas para microscopia que, por sua vez, foram levadas à estufa a 60°C por uma hora para desparafinização. O método de coloração empregado no material foi o hematoxilina-eosina (Hematoxilina de Harris/ Eosina amarela): desparafinização completa em xilol (2x); rehidratação em banhos de álcoois: absoluto (3x), 95% (1x), 80% (1x); lavagem em água corrente e destilada; banho em corante 
    Hematoxilina de Harris (1 minuto) – lavagem em água corrente destilada; banho em álcool 95% (3x); banho em corante Eosina amarela (30 segundos); desidratação em banhos em álcool 95% (3x) e álcool absoluto (4x) e montagem com Entellan (resina sintética para microscopia) em lamínula, utilizando-se microscópio óptico nos aumentos de 100x e 400x.
    Os insetos adultos foram sacrificados em câmara mortuária contendo acetato de etila e posteriormente colocados por 12 horas em líquido fixador de Dietrich. Esses insetos também foram inoculados com seringa e agulha (comumente utilizadas para aplicação de insulina) entre o tórax e o abdome, foram classificados taxonomicamente, alfinetados e colocados em gavetas entomológicas, que se encontram no Laboratório de Zoologia Médico Legal do Instituto Oscar Freire.

    Discussão e Conclusão
    A putrefação cadavérica é o processo de decomposição da matéria orgânica por bactérias e pela fauna macroscópica. Os fenômenos putrefativos seguem determinada evolução cronológica, mas, sem uma 
    precisão rigorosa, é possível encontrar em cadáveres a simultaneidade de vários períodos transformativos. Classicamente, a putrefação se desenvolve em quatro fases ou períodos distintos: 
    período de coloração, período gasoso, período coliquativo e período de esqueletização.
    O período de coloração, ou fase cromática da putrefação, tem como principal característica o aparecimento da mancha verde, que se inicia comumente na fossa ilíaca direita devido à proximidade do ceco à pele, difundindo-se posteriormente para o abdômen, tórax, cabeça e membros. A coloração verde dos tegumentos é explicada pela produção de hidrogênio sulfurado ou gás sulfídrico produzidos pelas bactérias que se combinam com a hemoglobina, formando a sulfometahemoglobina, que possui colorido verde. 
    O aparecimento da mancha verde, segundo Fávero, ocorre em torno de 18 a 22 horas após a morte, 
    recobrindo totalmente o cadáver entre 07 a 12 dias; segundo França, em nosso meio, geralmente surge entre 20 e 24 horas após o falecimento. De acordo com Abreu, o clima influencia este tempo de 
    aparecimento, assim, em ambiente moderadamente quente, surge no fim de 24 horas, em ambiente 
    quente, entre 15 e 18 horas e, em ambiente frio, entre 4 a 5 dias . 
    No período gasoso há um aumento progressivo e rápido da produção de gases pelas bactérias, que se disseminam por todos os tecidos dando origem a um enfisema subcutâneo. 
    Em conseqüência desse acúmulo de gases, o corpo vai ficando com aspecto gigantesco, com os olhos e língua proeminentes. Além disso, devido à pressão dos gases putrefativos no interior do cadáver, o sangue é propelido dos grandes vasos sanguíneos e do coração para a circulação periférica, deixando estes vasos bem visíveis com aspecto bastante característico, sinal conhecido como circulação póstuma de 
    Brouardel. Ainda nesta fase, a grande produção de líquidos, que migram para a superfície dá origem 
    a bolhas (flictenas putrefativas) de tamanhos variados, nos tegumentos, local aonde a epiderme vai se destacando deixando a derme exposta; este período inicia-se por volta de dois dias após a morte, atingindo o máximo antes de uma semana e pode durar de uma a três semanas, de acordo com Hércules; já segundo Fávero, o início ocorre no prazo de uma a três semanas.
    No caso em tela, o cadáver apresentava, dentre os fenômenos transformativos destrutivos, mancha verde no corpo todo, aspecto gigantesco e deformado, exoftalmia, protrusão da língua e dos órgãos genitais, enfisema subcutâneo, flictenas, destacamento da epiderme e circulação póstuma de Brouardel, portanto, encontrava-se no período gasoso da putrefação. Desta maneira, de acordo com a literatura médico legal, o PMI poderia ser estimado de dois dias a algumas semanas.
    É importante citar que o fato do corpo estar coberto dificultou a postura de ovos em outro local, senão as partes descobertas (pescoço e cabeça). 
    Após análise entomológica (próprio corpo e suas vestes), observou-se que havia presença de larvas de terceiro instar para pré-pupa nas roupas, abandonando o corpo para tentar pupar definitivamente e transformarem-se em adultos. 
    A análise histológica com coloração HE do espiráculo posterior das larvas e a criação em laboratório dos espécimes demonstrou que, após classificação taxonômica, chegou-se à conclusão de que o animal pertencia ao Filo Arthropoda; 
    Classe Insecta; Ordem Diptera; Subordem Brachycera; Família Muscidae; Gênero Muscina e Espécie M. stabulans 
    Em geral, o ciclo de vida em fase larval até pupa de um Díptero, Muscidae, (Holometábulo) passa por três instares (fases) cujos tempos de transformação variam de acordo com as espécies. A M.stabulans deposita cerca de 150 ovos sobre o substrato. A eclosão do ovo para larva de primeiro instar (L1) ocorre num período de aproximadamente de 8 a 12 horas dependendo da temperatura, umidade e situação sazonal, além de fatores intrínsecos e localização do substrato. O desenvolvimento da larva de primeiro a terceiro instar varia em até 9 dias para transformação em pupa.
    Portanto, de acordo com GHA (Grau Hora Acumulado) e GDA (Grau Dia Acumulado) seu PMI foi estimado em 8 (oito) dias. Isto demonstra a importância da Entomologia Forense no estabelecimento do PMI, por permitir uma precisão maior do que a dos estudos dos fenômenos cadavéricos. Com a análise da 
    entomologia, quanto maior o tempo de morte, maior a precisão do PMI .Finalmente, o encontro apenas desta espécie (M.stabulans) também demonstra que o cadáver não foi translocado, pois este inseto tem como característica alto índice de sinantropia, além dos hábitos domésticos. Esse tipo de informação pode ser considerado como mais uma contribuição do estudo entomológico para a atividade forense. 
    Agradecimento a José Benedito de Oliveira – Auxiliar de necropsia.

    Neto AP, Carvalo EC, Cavallari ML, Gianvecchio VAP, Neto JS, Tartarella MA, Kanamura C, Muñoz DR. Estimativa 
    de tempo de morte por meio da entomofauna cadavérica em cadáveres putrefeitos: Relato de Caso. Saúde, Ética 
    & Justiça. 2009; 14(2):92-96.
    reSumo: Relato do caso de uma senhora de sessenta e nove anos encontrada morta em sua residência, já em estado 
    de putrefação, no qual a análise dos fenômenos cadavéricos foi imprecisa para determinar a cronotanatognose (de 
    dois dias a algumas semanas). Foi, então, realizado o estudo da entomofauna cadavérica para determinar o PMI (post 
    morten interval) e concluiu-se que a morte havia ocorrido oito dias antes.
    deScritoreS: Entomologia; Cadáver; Medicina legal/métodos.

    FONTE: http://www.fm.usp.br/gdc/docs/iof_97_estimativa-92-96.pdf


    sábado, 23 de novembro de 2013

    O Tanatopraxista

    O Tanatopraxista


    Prof. Dr. Oisenyl J. Tâmega
    e Prof. Dr. Progresso J. Garcia

    O firme propósito de uma empresa funerária em busca do melhor atendimento, com aumento de confiabilidade e rentabilidade, necessita de um quadro dedicado e competente de funcionários. A formação de tanatopraxista está diretamente ligada a existência de alguém na empresa que tenha uma série de qualidades para que o sucesso da implantação desse serviço se concretize o mais rápido possível.
    Várias dúvidas surgem quanto ao tanatopraxista:
    1-     Quais devem ser suas qualidades?
    2-     Quais suas reais funções?
    3-     Quais seus cuidados com a contaminação própria e ambiental?
    4-     Quantos são necessários para uma empresa?
    5-     O que é preciso para aprender essa técnica? E muitas outras...

    Na verdade surge, para o diretor funerário, uma outra dúvida ainda maior e que antecede a todas as citadas anteriormente. O que deve ser feito primeiro? Construir e equipar o tanatório ou aprender a tanatopraxia?

    O ideal é, primeiramente construir um tanatório com orientação profissional e, durante o aprendizado no Curso Teórico-prático de Tanatopraxia, oferecido pelo CTAF, se inteirar da necessidade e utilidade de cada equipamento para sua efetiva compra imediata. Dessa forma não ocorrerá perda no investimento estrutural e cultural, além de agilizar o retorno financeiro. Pode-se perceber que na verdade as necessidades estão correlacionadas e suas providências devem ser tomadas quase que ao mesmo tempo.

    A seleção da pessoa destinada a se tornar um tanatopraxista é fundamental. A pessoa escolhida deve, preferencialmente, ter conhecimento e habilidade em lidar com a preparação de cadáveres, ter interesse em aprender essa nova e revolucionária técnica, estar motivado para após o aprendizado desenvolver sua nova função, ser organizado, cuidadoso e sentir orgulha da profissão que exerce.

    Como também ocorre em outras profissões e em muitas atribuições no próprio setor funerário, o conhecimento pleno do serviço por parte do diretor funerário é importante não só para poder direcionar o exercício da tanatopraxia, como também para dar suporte necessário a execução segura e correta dessa tarefa.

    Nem sempre um grau de instrução elevado o mais tempo de serviço servem como bens critérios para a indicação de alguém para ser tanatopraxista. A confiança da diretoria da empresa no seu funcionário juntamente com o conhecimento de sua responsabilidade e vontade em se instruir para poder apresentar bons resultados, são pontos importantes para o sucesso nesse empreendimento.

    Essa indicação é o primeiro passo. Entretanto, por menor que seja a empresa ou a cidade onde está estabelecida, apenas um tanatopraxista não será suficiente, pois trata-se de uma função que necessita ao mesmo tempo lidar com o corpo e com produtos adequados a serem adicionados corretamente em equipamentos de precisão. Outro fator surge pouco tempo após a implantação desta técnica, quando o bom serviço feito começa a apresentar resultados e passa praticamente a ser uma rotina na empresa, pois a população acompanhando essa evolução, adere rapidamente. Fiquem, portanto, prevenidos para a feliz e compensadora necessidade de indicar mais alguém que também irá desempenhar essa função.

    O tanatopraxista será o técnico responsável pela tanatopraxia feita em um cadáver e isto implica em muita responsabilidade, conhecimento e vários critérios a serem adotados. Um cuidado inicial importante para se propor a fazer esse serviço é, antes de mais nada, saber a causa mortis e fazer pessoalmente a avaliação das condições do corpo para se ter uma estimativa do tempo de execução do serviço e da qualidade do resultado final.

    Por outro lado, a tanatopraxia só poderá entrar em andamento se a família já estiver de posse do atestado de óbito e, após conhecimento, assinar documento autorizando esse serviço que nada mais é do que a higienização e preparação do corpo em melhores condições para velório. Essa tarefa de avaliação é, talvez, a mais árdua pois a partir dessa verificação será determinado o procedimento a ser tomado e, se efetuado corretamente, surtirá um bom resultado.