sábado, 14 de setembro de 2013

Saiba o que é Saponificação Cadavérica



Saiba o que é Saponificação Cadavérica


Este processo pelo qual um corpo se transforma numa espécie de sabão é chamado de saponificação cadavérica. Consiste na transformação da gordura dos tecidos em adipocera - substância amarelo-clara, semelhante a cera ou queijo, com um odor rançoso e desagradável. Os lipídios são transformados em sabão e o corpo transforma-se numa massa pastosa e, em muitos, casos sem forma. Há uma transformação gordurosa e calcária do cadáver. 
O processo ocorre devido à circunstâncias que são intrínsecas ao cadáver e principalmente ao meio onde este permanece.
Como condições individuais temos: a idade (facilidade nas crianças); obesidade; causa mortis (intoxicações pelo álcool e pelo fósforo facilitam). 
E como condições ambientais temos: local úmido ou meio semi-líquido com água que se escoa e se renova e solo argiloso que retém a água, ricos em sais de cálcio. Transformando o terreno ao redor da cova, numa espécie de tanque de conservação.
A adipocera transforma quimicamente todos os tecidos do cadáver, conservando este sua forma com as feições como se tivesse acabado de morrer. A pele é pouco alterada. As gorduras se transformam em glicerinas e ácidos graxos e estes, por sua vez, se combinam com álcalis originando sabões amoniacais e alcalinos terrosos. Posteriormente estes se transformam em sabões calcários, por ação dos sais da água, adquirindo o cadáver uma maior resistência à decomposição. 
A adipocera começa cerca de 1 mês de permanência do corpo na água; é visível e franca na face aos 3 meses. A transformação completa requer cerca de 1 ano. No início do processo ainda é possível reconhecer os diversos órgãos, depois todos são idênticos.
SAPONIFICAÇÃO RETARDA ROTATIVIDADE EM CEMITÉRIOS EM BELÉM DO PARÁ
Um estudo coordenado pela professora Lúcia Maria da Costa e Silva, em 1996, comprovou que o cemitério do Benguí, em Belém, estava contaminando o fluxo de água subterrânea que segue para a área residencial vizinha. A pesquisa, junto com a análise da água, motivou o fechamento do cemitério.
Os cemitérios públicos de Belém, como o do Benguí e o do Tapanã, foram implantados dentro do conceito de rotatividade. Periodicamente, a Prefeitura realiza a exumação observando o tempo de inumação – sete anos para homens e três para crianças até sete anos – período em que o processo de putrefação já teria cumprido suas quatro fases.
No entanto, pesquisadores da Faculdade de Geofísica da UFPA comprovaram um fenômeno no cemitério do Benguí: a saponificação dos corpos, interrompendo qualquer um dos quatro estágios da putrefação, postergando-o e, consequentemente, retardando em vários anos qualquer tentativa de exumação. 
Lúcia Costa e Silva observa que a legislação municipal, baseada em normas do período colonial, está em flagrante oposição à realidade amazônica e que, em outros países, onde a ocorrência da saponificação é remota, a exumação só é realizada após 25 anos. O cemitério do Benguí foi desativado em 1997. Ocupa uma área de 450x600 m². Absolutamente imprópria para abrigar um cemitério, porque o nível hidrostático é inferior a 1,20m no inverno, ou seja, a água entra nas sepulturas, caso não reportado na literatura. 
O que mais surpreendeu os pesquisadores da área de geofísica da UFPA é que o fenômeno da saponificação não está restrito ao baixo terreno do cemitério desativado. Também no Tapanã, edificado sobre um terreno alto, com nível hidrostático em torno de 7,5 metros, os estudos registraram o fenômeno.
No Benguí, a exumação e a limpeza da área são necessárias para eliminar a contaminação e para uma futura reutilização com outra finalidade. Quanto ao Tapanã, a exumação é parte do processo de rotatividade, liberando sepulturas para novos enterramentos.
Diferentemente da situação extrema do Benguí, o Tapanã, aparentemente, apresenta condições ideais para abrigar um cemitério, mas a análise da subsuperfície apresentou uma característica típica da Amazônia: a presença excessiva de argila. Impermeável, ela retém a água da chuva, formando um grande bolsão de lama em torno do cadáver, cujo desenvolvimento, durante vários meses, foi monitorado pelos pesquisadores com instrumentação sofisticada. É essa lama a responsável pela saponificação.
Os coveiros do cemitério informaram aos pesquisadores que a saponificação está impedindo a realização de exumações periódicas. A situação tende ao agravamento, pois o cemitério já enfrenta problemas de superlotação, que motivaram o uso das passarelas de terra para sepultamentos, bem como a construção de um novo ossuário, eliminando, assim, o depósito num dos banheiros. A porção final do cemitério, por sua vez, não pode ser ocupada, porque o lençol de água subterrânea está muito próximo da superfície.
“Nossos estudos mostram que a saponificação é frequente. Isso vale para a Amazônia inteira. A solução mais viável é o forno crematório”, alerta Lúcia Costa e Silva, diante da proposta da Prefeitura de construir um cemitério vertical. 
Comparando os dois tipos, a pesquisadora ressalta que a cremação é rápida, eficiente, agride menos o ambiente e precisa, apenas, de um bom dispositivo para filtrar odores, enquanto o cemitério vertical requer tratamento de gases e líquidos produzidos.



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