Autópsia é nome popular do exame feito em cadáveres para determinar as circunstâncias e causas de sua morte. É feita por um médico-legista, que abre três cavidades do corpo (crânio, tórax e abdome) e analisa os órgãos de cada região.
Três situações exigem esse tipo de exame: morte violenta ou suspeita, quando o corpo é levado para o Instituto Médico Legal (IML); morte natural em que faltou assistência médica ou por doença sem explicação, que fica a cargo do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO); ou quando a doença é rara e precisa ser estudada, casos normalmente levados a hospitais-escola.
Ou seja, autópsias não são feitas a todo momento. Em muitos lugares, nem existem médicos suficientes para fazerem autópsias de rotina. Mas, segundo um novo estudo, deveria ter.
Apesar de mal ouvirmos falar em autópsia ultimamente – a não ser quando uma celebridade morre -, elas são importantes porque podem dizer o motivo pelo qual comunidades estão morrendo – e, com isso, mostrar para os governos onde seu dinheiro deveria ser gasto na área da saúde.
Tome como exemplo o caso do vírus do oeste do Nilo em Nova York. Em 1999, oito nova-iorquinos morreram de infecções cerebrais, e todo mundo achou que eles tinham um vírus comum. Médicos legistas americanos insistiram em fazer autópsias – e descobriram os primeiros casos norte-americanos de vírus do oeste do Nilo.
Segundo o epidemiologista sueco Peter Byass, da Universidade de Umea, sem autópsias de rotina é difícil descobrir o que está prejudicando as pessoas e onde o dinheiro deve ser gasto para melhorar a saúde delas.
É aí que entra a “autópsia verbal”.
Byass e sua equipe têm trabalhado nessa técnica por cerca de uma década. A última versão do que eles chamam de “autópsia verbal” combina uma simples entrevista com algoritmos de alta tecnologia para deduzir a causa da morte de uma pessoa.
A maioria das pessoas que vive em áreas rurais, por exemplo, morre em suas casas sem sequer consultar um médico. Nesses casos, diz Byass, a autópsia verbal pode ajudar.
Depois de uma morte, uma enfermeira local ou outra pessoa da comunidade pode ir até à casa da família e fazer algumas perguntas, como “O que aconteceu antes da morte? A pessoa foi picada por insetos ou cobras? Será que teve uma erupção cutânea [vermelhão]? Pés inchados?”.
As respostas são colocadas em um software de computador, que então gera uma lista do que provavelmente matou a pessoa.
“Não é muito diferente do que um médico faz em sua cabeça quando está preenchendo um atestado de óbito”, diz Byass. “É o equivalente matemático do processo”.
Para algumas doenças, como sarampo e má nutrição, os algoritmos são quase tão bons em prevê-las quanto um médico treinado para identificar a causa da morte. Inclusive, em testes feitos pela equipe de Byass, a técnica se mostrou correta 90% das vezes em prever até se uma pessoa morreu de AIDS, o que já não é tão fácil.
Porém, para outras doenças com sintomas semelhantes, como a malária e pneumonia, as autópsias verbais levaram a erros. Esses erros têm mantido alguns médicos céticos sobre a técnica.
Claro que a ideia é ter uma noção ampla do que está acontecendo em diversas comunidades. Detalhes específicos não podem ser obtidos nem mesmo por um médico, a não ser que ele faça um cuidadoso exame post-mortem.
Ainda assim, Byass acredita que ter alguma informação é melhor do que não ter nenhuma.
De acordo com ele, 50% das mortes em todo o mundo não são registradas. Saber como alguém morre é uma informação indispensável para os governos distribuírem recursos de saúde que podem ser cruciais em salvar vidas.
Até agora, o uso da “autópsia verbal” foi limitado a pequenos projetos de pesquisa. Mas a Organização Mundial de Saúde está tentando torná-la mais rotineira em lugares onde mortes normalmente não são registradas. Byass está até se preparando para lançar um aplicativo de smartphone que deduz causas de morte. Isso significa que, em breve, você talvez possa brincar de médico legista.
[NPR, MundoEstranho]
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